Era uma vez um rapaz chamado
Muito Vivo, nome que caiu em desuso e que eu achava engraçado. Pois o Muito
Vivo era um miúdo que não conseguia estar quieto muito tempo, era capaz de se
envolver em várias tarefas. Os pais achavam que ele não era muito organizado,
as roupas não ficavam arrumadas como as do irmão e os seus brinquedos
espalhavam-se sem ordem aparente pelo espaço onde brincava.
Na escola, adorava conversar e
estava sempre pronto para uma discussão na sala de aula, defendia até ao limite
os seus pontos de vista e dificilmente se convencia de coisas diferentes do que
pensava, até, diziam, era um bocado teimoso. Quem olhasse para o Muito Vivo no
recreio notava que ele nunca estava quieto, participava em tudo quanto era jogo
sem aparente cansaço e sempre motivado. Os seus trabalhos escolares eram, como
não podia deixar de ser, feitos à pressa mas, apesar disso, com um nível
satisfatório.
Nas reuniões entre pais e
professores o Muito Vivo era sempre objecto de bastante conversa, não que as
questões sentidas fossem, ou parecessem, muito graves mas porque ele era Muito
Vivo. No entanto, acharam que seria melhor o Muito Vivo ser observado em
consultas especializadas.
Quando voltou das consultas
especializadas e as pessoas leram os resultados e as opiniões, decidiram que o
Muito Vivo afinal tinha um problema muito grande e deveria até mudar de nome. A
partir dessa altura chamar-se-ia Hiperactivo e as pessoas começaram então a
achar que também tinham um problema muito grande.
O Muito Vivo nunca mais se sentiu
bem, sentia-se um miúdo com um problema muito grande que causava às pessoas um
problema muito grande.
Na verdade, é preciso uma enorme
prudência nos nomes que se dão aos miúdos.
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