quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A HISTÓRIA DO MUITO VIVO

Era uma vez um rapaz chamado Muito Vivo, nome que caiu em desuso e que eu achava engraçado. Pois o Muito Vivo era um miúdo que não conseguia estar quieto muito tempo, era capaz de se envolver em várias tarefas. Os pais achavam que ele não era muito organizado, as roupas não ficavam arrumadas como as do irmão e os seus brinquedos espalhavam-se sem ordem aparente pelo espaço onde brincava.
Na escola, adorava conversar e estava sempre pronto para uma discussão na sala de aula, defendia até ao limite os seus pontos de vista e dificilmente se convencia de coisas diferentes do que pensava, até, diziam, era um bocado teimoso. Quem olhasse para o Muito Vivo no recreio notava que ele nunca estava quieto, participava em tudo quanto era jogo sem aparente cansaço e sempre motivado. Os seus trabalhos escolares eram, como não podia deixar de ser, feitos à pressa mas, apesar disso, com um nível satisfatório.
Nas reuniões entre pais e professores o Muito Vivo era sempre objecto de bastante conversa, não que as questões sentidas fossem, ou parecessem, muito graves mas porque ele era Muito Vivo. No entanto, acharam que seria melhor o Muito Vivo ser observado em consultas especializadas.
Quando voltou das consultas especializadas e as pessoas leram os resultados e as opiniões, decidiram que o Muito Vivo afinal tinha um problema muito grande e deveria até mudar de nome. A partir dessa altura chamar-se-ia Hiperactivo e as pessoas começaram então a achar que também tinham um problema muito grande.
O Muito Vivo nunca mais se sentiu bem, sentia-se um miúdo com um problema muito grande que causava às pessoas um problema muito grande.
Na verdade, é preciso uma enorme prudência nos nomes que se dão aos miúdos.

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