O texto de Laurinda Alves no
Observador, “Não me limitem!”, as experiência de vida nele divulgadas e a
inspiração de que se revestem justificam
que de novo e sempre retome algumas questões sobre o universo das pessoas com
necessidades especiais.
É verdade.
Sem ser por magia ou mistério
quando acreditamos que as pessoas, mais novas ou mais velhas, com algum tipo de
necessidade especial, são capazes, não se "normalizam" evidentemente,
seja lá isso o que for, mas são, na verdade, mais capazes, vão mais longe do
que admitimos ou esperamos, mesmo tão longe como qualquer outra pessoa. Não
esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do meu ponto de
vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem, que eles são
capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o progresso possível e
níveis de realização significativos. Trata-se do efeito de representações e expectativas que de há muito é estudado também no campo da educação.
E isto envolve professores do
ensino regular, de educação especial, técnicos, pais, lideranças políticas,
empregadores e toda a restante comunidade.
No entanto, em algumas
circunstâncias o trabalho desenvolvido com e por estes alunos é ele próprio um
factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação
do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da
incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados
e competentes, mas da sua (nossa) própria representação sobre este grupo de
pessoas, isto é, não acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta
representação resultam situações e contextos de aprendizagem e formação,
tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na
definição de objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não conseguem
potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não
são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
Mais uma vez. A inclusão assenta
em quatro dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na
comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas),
Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns), Pertencer
(sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade) e, finalmente e por vezes também negligenciado, Aprender
(sempre tendo como referência o que todas as pessoas na sua idade aprendem).
Estas dimensões devem ser operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação
justamente para que acomodem a diversidade das pessoas.
É neste sentido que devem ser
canalizados os esforços e os recursos que deverão, obrigatoriamente, existir.
Não, não é nenhuma utopia. Muitas experiências como as que servem de base a
este texto, realizadas por cá e noutras paragens, mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
Sem comentários:
Enviar um comentário