Ao que se lê na imprensa aumentou
significativamente o investimento dos portugueses nos “jogos sociais” da Santa
Casa. Este ano nos primeiros seis meses foi de 1,5 mil milhões de euros face a 1.359,6
milhões de euros em 2016 no primeiro semestre.
Apesar de alguma recuperação, as
famílias continuam com rendimentos baixos mas as apostas nos “jogos sociais”
aumentam.
Na verdade, o Totobola e depois o
Euromilhões, o Totoloto e, posteriormente a Raspadinha estabeleceram-se
firmemente na vida de muitos de nós e criaram mesmo uma imagem criadora de
futuro que nos move, provavelmente e para muitas pessoas, a única imagem
criadora de futuro.
Importa reconhecer que as imagens
criadoras de futuro são imprescindíveis, tanto mais quando atravessamos tempos
duros em que esperança também foi revista em baixa e ainda não recuperámos.
No que respeita ao Euromilhões,
julgo poder afirmar-se que em muitos lares portugueses e hoje mais do que
nunca, uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o Euromilhões, para
deixar de trabalhar”. Muito provavelmente, cada um de nós já ouviu, pensou ou
disse esta expressão alguma vez ou vezes. Creio também que não é usada apenas
pelos cidadãos com maiores dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização.
Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor
substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar
superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente. O
que de facto me parece mais interessante é o complemento “para deixar de
trabalhar”. É certo que nem todas as expressões devem ser entendidas no seu
valor “facial”, mas é também verdade que a recorrente afirmação deste desejo
acaba por ilustrar a relação que muitos de nós estabelecemos com o lado
profissional da nossa vida, isto é, “quero livrar-me dele o mais depressa
possível”. Não será grave, mas é um indicador que possibilita várias leituras.
Neste contexto sabem qual é a
minha inquietação? É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu
mundo “laboral” e os discursos dos adultos, desatam a pedir, se puderem, um aumento de mesada que lhes
permita apostar no Euromilhões para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.
2 comentários:
Os miúdos deixam de o ser aos 18 anos e as regras do euro milhões ditam que só a partir dessa idade lhes é permitido apostar. Mas o espírito do seu post tem o peso da verdade. No entanto penso que quando as pessoas dizem "deixava de trabalhar", o dizem porque é o politicamento correcto ou figura de estilo, a não ser que já estejam à porta da reforma laboral.
Mas os seus receios fazem todo o sentido.
Por distracção omiti o:
VIVA!
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