O Público faz referência a um estudo da Universidade
Estadual do Iowa mostrando com a presença no quarto das crianças de
dispositivos como computadores, tv, smartphones ou tablets têm potenciais
impactos no desempenho escolar, maior risco de obesidade e dependência das
novas tecnologias.
Os dados não sugerem nada de novo
mas sublinham a necessidade de dar atenção a esta questão que frequente é
abordada em muitos encontros com pais. Daí a insistência retomando algumas notas.
Também em Portugal, um estudo de
2016 da Universidade do Minho indiciava que cerca de 72% de mais de quinhentas
crianças e adolescentes inquiridos, dos 9 aos 17, dormem menos do que seria
recomendável para as suas idades. Aliás, estudos liderados pela Professora Teresa
Paiva mostram isso mesmo.
Para além das questões ligadas
aos estilos de vida e às rotinas, uma das causas apontadas é a presença de
aparelhos como computadores, tablets ou smartphones no quarto.
Um estudo recente realizado nos
EUA acompanhando durante seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de
relação entre perturbações ou pouca qualidade do sono e o desenvolvimento de
problemas de natureza diferenciada no comportamento e funcionamento das
crianças.
O que me inquieta é que esta
matéria, os padrões e hábitos de sono de crianças e adolescentes, é muito importante e reconhecida mas nem sempre parece devidamente considerada, seja por
desatenção, negligência ou impotência, é muito mais fácil ter um pc ou um smartphone
no quarto dos filhos que retirá-los depois de já fazerem parte do “mobiliário”.
A falta de qualidade do sono e do
tempo necessário acaba, naturalmente, por comprometer a qualidade de vida das
crianças e adolescentes, incluindo o rendimento e comportamento escolar mas não só. Todos
nos cruzamos frequentemente nos Centros Comerciais, por exemplo, com crianças,
mais pequenas ou maiores, a horas a que deveriam estar na cama e que, penosa
mas excitadamente, deambulam atreladas aos pais.
Alguma evidência sugere que parte
das alterações verificadas nos padrões e hábito relativos ao sono remete para
questões ligadas a stresse familiar e sublinha o aumento das queixas relativas
a sonolência e alterações comportamentais durante o dia.
As situações de stresse familiar
serão importantes mas parece-me necessário não esquecer alguns aspectos relacionados
com os estilos de vida, com as rotinas ou com a utilização nem sempre regulada
das novas tecnologias. Durante o dia, as crianças e adolescentes passam boa
parte do seu tempo saltitando de actividade para actividade, passam tempos
infindos na escola e, muitos deles, são pressionados para resultados de
excelência.
Com a presença dos diferentes
dispositivos no quarto durante o período que seria dedicado ao sono e sem
regulação familiar, muitas crianças e adolescentes continuam diante de um ecrã.
Como é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos
comportamentos durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente,
o risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de
vida.
Creio que, com alguma frequência,
alguns comportamentos e dificuldades escolares dos miúdos, sobretudo nos mais
novos que por vezes, sublinho por vezes, são de uma forma aligeirada remetidos
para problemas como hiperactividade ou défice de atenção, podem estar
associados aos seus estilos de vida ou aos modelos educativos, universo onde se
incluem os hábitos e padrões de sono como, aliás, alguns estudos e a experiência
de muitos profissionais parecem sugerir.
Considerando as implicações
sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada
aos pais para estas questões e que apesar a utilização imprescindível e útil
destes dispositivos seja regulada e protectora da qualidade de vida das
crianças e adolescentes
A experiência mostra-me que
muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas
matérias.
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