O Expresso tem um texto
interessante em que aborda a Matemática, as questões em torno dos resultados da
sua aprendizagem, do modo de ensinar e, sobretudo, da forma como é percebida pelos alunos e pelas
famílias. Neste início de ano lectivo é uma questão importante fundamentalmente
pensando nos alunos que estão a iniciar o seu percurso escolar formal. Algumas
notas.
A Matemática é de facto a
disciplina em que os alunos têm menor desempenho. Recordo o estudo “Resultados
escolares por disciplina - 2º ciclo - ensino público" relativo ao ano de
2014/2015 realizado pela Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e
divulgado em Maio que mostra isso mesmo.
Cerca de 30% dos alunos tiveram
resultado negativo sendo também a disciplina em que os alunos sentem mais
dificuldade em recuperar, passar de resultado negativo para resultado positivo.
A explicação para este cenário é
complexa. Desde logo são influenciados, não numa relação de causa-efeito, por
múltiplas variáveis sociodemográficas como contexto social e económico, nível
de escolaridade dos pais, etc.
Por outro lado, variáveis como
modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das
turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e
professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica terão também algum
peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
Acresce a esta complexidade um
conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência
e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais
psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de
ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes
de aprender matemática.
É também conhecido que os pais
com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas
mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção
educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam
formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de
ajuda externa.
Finalmente uma outra variável
neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática, a questão sublinhada
pelo trabalho do Expresso. Creio que ainda hoje e de uma forma geral existe uma
percepção passada nos discursos de que Matemática é uma “coisa difícil” e que só
os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente
que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até
com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É
claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a
Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma
tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante.
De facto, este tipo de discursos
não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se
alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a
desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos
professores mas no limite e como sempre será a escola a fazer a diferença. Não
podemos falhar.
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