A propósito do início do ano
lectivo surgiram na generalidade da imprensa diversas peças com orientações, conselhos,
dicas, para que os pais fizessem o seu trabalho com os seus filhos.
A este propósito recupero um
texto que divulguei na Visão há já alguns meses a que chamei “Manual de
instruções”.
“Um dia destes, um bom amigo cá de casa entusiasmado com a ideia de em
breve integrar a comunidade dos avós e sabendo da minha ligação ao universo dos
miúdos pedia, meio a brincar meio a sério, que lhe sugerisse alguma leitura.
Também meio a brincar, meio a sério achei que uma boa e primeira opção seria
ele estar disponível para ler atentamente e para compreender os gaiatos. Na
maioria das situações é suficiente estar atento para os compreender. Eles
também nos compreendem e a estrada faz-se com não mais do que os sobressaltos
que todas as estradas apresentam.
Fiquei no entanto a pensar na solicitação do meu amigo e na frequência
crescente com que estes pedidos surgem.
É verdade que, contrariamente ao que acontece com todos os bens até por
imposição comunitária, as crianças continuam a ser “fornecidas” aos pais sem
virem acompanhadas de um manual de instruções de preferência em várias línguas.
Algum excesso nos discursos sobre a "instrução" e
"educação" e as questões novas que as mudanças nos valores e nos
estilos de vida colocam, levam a que os pais sintam algumas dificuldades no seu
trabalho de pais e a que muitos técnicos entendam providenciar um "manual
de instruções" que promoverá a educação perfeita da criança perfeita.
Nos últimos anos tem-se verificado um aumento exponencial na publicação
destes "manuais". Existem para todos os gostos, para todas as idades
e escritos sob as mais variadas perspectivas. Tenho lido muitos, alguns
parecem-me interessantes e uma eventual ajuda para alguns pais e para algumas
questões, outros, devo confessar, deixam-me alguma inquietação, não passam de
um enunciado de "orientações prescritivas" longe das circunstâncias
de vida em que muitas famílias se movem.
Para além das ajudas que os pais possam encontrar nestes "manuais
de instruções" creio ser importante sublinhar que, felizmente para todos
nós a começar pelas crianças, os pais são, de uma forma geral, intuitivamente
competentes. Mais "asneira", menos "asneira", mais uma
"festinha", menos um "ralhete" e o caminho cumpre-se sem
grandes problemas. Um discurso social excessivo em torno da
"psicologização" ou induzindo a ideia de que só indo a uma
"escola de pais" e lendo vários "manuais de instruções"
poderemos ser bons pais, pode ser mais fonte de inquietação que de ajuda.
Parece-me sobretudo importante que os pais falem entre si sobre as suas
experiências, sem receio de que os julguem maus pais. Importa inda que na
relação com os técnicos ligados à educação as conversas não incidam quase que
exclusivamente sobre "se está bem ou mal na escola", mas que se abordem
as questões educativas também no contexto familiar de forma aberta e serena. Os
"manuais de instruções" não são a solução, são, alguns, apenas mais
uma ajuda.
Pais atentos, pais confiantes, são pais que educam sem especiais
problemas. Paradoxalmente, alguns "manuais" e alguns discursos
"científicos" podem aumentar a insegurança e a ansiedade de alguns
pais.”
São estes os meus conselhos,
orientações, dicas.
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