À boleia de uma peça do Público
retomo o Relatório “Equations and Inequalities: Making Mathematics Accessible
for All” elaborado pela OCDE com base nos resultados em Matemática no estudo
comparativo PISA de 2012.
Uma das recomendações do
Relatório remete, não é a primeira vez que a OCDE se refere a esta questão,
para a necessidade de se repensar o recurso a turmas de alunos “mais fracos”para minimizar dificuldades.
Muitas vezes aqui tenho abordado
esta questão e recupero algumas notas.
Como já tenho referido, em
algumas situações, bem avaliadas todas as variáveis envolvidas, posso entender
a constituição por um período de tempo bem delimitado de grupos de
alunos com algum tipo de dificuldade escolar para a realização de um trabalho
de apoio específico. Existem algumas boas experiências neste campo.
No entanto, a constituição de
natureza mais prolongada de grupos de alunos com dificuldades ou de grupos de “bons
alunos” abre a porta a situações que me parecem profundamente discutíveis,
referidas no Relatório da OCDE. Esta inquietação não tem rigorosamente a ver com
a argumentação fraquinha, muito fraquinha, do estafado e improdutivo
"politicamente correcto”.
Esta situação existe entre nós,
começou há anos com “turmas de nível” e quem conhece a realidade sabe que os
resultados dos alunos "maus" continuaram, genericamente maus, o povo
diz junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior do que
eles.
A constituição de grupos
nivelados, "homogéneos", com base no rendimento escolar, no
comportamento ou na origem social e familiar, não é rara nas nossas escolas, com
ou sem “cobertura” legal.
Sabemos todos de turmas
maioritariamente constituídas por repetentes ou oriundos de alguns bairros, bem
como, pelo contrário, turmas maioritariamente constituídas por bons alunos,
filhos de docentes ou de funcionários ou de alguém com “capacidade” para
influenciar a definição da turma para o seu filho.
A questão central coloca-se em dois
patamares, a eficácia e o impacto nos alunos. Vamos por partes. A experiência e
os estudos realizados sobre estas questões mostram que sem recorrer a apoios
eficazes e adequados, separando apenas por competência, os “bons”
continuam bons os “maus” também continuam maus, apenas deixam, crê-se, de
atrapalhar o trabalho dos bons.
O trabalho dos maus, corre o
risco de ser nivelado por baixo introduzindo um tecto nas aprendizagens que
inibe um percurso do mesmo tipo e qualidade que o dos bons mesmo que sejam
bem-sucedidos, o que só acontece pelo trabalho de apoio adequado e não por
estarem junto de outros maus.
Nós aprendemos mais e melhor com
quem sabe mais que nós.
Quanto ao impacto, parece óbvio
que a diversidade é sempre preferível a uma falsa homogeneidade. As atitudes de
discriminação negativa não apresentam nenhuma espécie de vantagem pessoal ou
social, guetizam, estigmatizam e promovem quer nos bons, quer nos maus, uma
relação desconfiada e tensa facilitadora de problemas.
As dificuldades escolares
gerem-se com apoios e recursos que terão certamente de ser diferenciados mas
não podem, não devem, implicar a criação de “guetos” para os “maus” alunos ou
de "condomínios" para os "bons". Sim, tem custos mas, como sempre, trata-se de opções políticas. Aliás, se promover o sucesso real é caro que se façam as contas ao custo do insucesso.
A verdade é que se não for a
escola, a educação, sobretudo a escola e a educação públicas, a promover
equidade de oportunidades e a combater a exclusão e o insucesso não restará
nada nem ninguém que o faça.
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