Lê-se na imprensa que as direcções
das escolas e agrupamentos, bem como os pais, estão preocupadas pelo desconhecimento sobre o
calendário escolar do próximo ano lectivo.
Parece claro que seria desejável
que com maior antecedência e também estabilidade fosse conhecido o calendário
escolar que facilite a melhor organização das escolas e também das famílias.
A propósito desta questão que
envolve o período de férias um dirigente da Confap, José Gonçalves afirmou que
seria importante que as escolas permanecessem abertas com actividades lúdicas
pois, cito do Público, "As crianças poderiam ficar na escola, que é o espaço em que os pais mais confiam. Além disso, era uma forma de os alunos verem ali não apenas um sítio de trabalho,mas também de lazer e diversão. Os alunos passam a gostar de estar na escola e, quando isso acontece, acabam por beber os conhecimentos que lhes transmitem."
Antes de algumas notas umas pequenas dúvidas, a saber:
As escolas estariam abertas 12
meses por ano ou seriam suficientes 11 meses conforme o presidente da Confap
defendia há um ano?
A escola é “o espaço em que os
pais mais confiam”, o espaço em que mais delegam competências, o espaço em que mais
depositam os filhos, ou o espaço em que se sentem obrigados a deixar os filhos por falta de alternativas?
A generalidade das pessoas
adoraria ter um programa de actividades lúdicas no seu local de trabalho
durante as férias e ficaria com uma muito melhor relação com essa instituição
pois seria um local de trabalho e um excelente parque de diversões?
Mais a sério e retomando notas
antigas
O facto deste tempo tão grande de permanência na escola ser algo de pouco comum na generalidade dos países não me
parece relevante como argumento embora mereça atenção.
A ideia de no sistema educativo
que temos e no modelo de sociedade em que vivemos proporcionar onze meses (pelo
menos) de estadia na escola é insustentável.
É verdade, sentimos todos, que os
estilos de vida actuais colocam graves problemas às famílias para assegurarem a
guarda das crianças em horários não escolares. A resposta tem sido prolongar a
estadia dos miúdos nas instituições escolares radicando no que considero um
equívoco, o estabelecimento de uma visão de “Escola a tempo inteiro” em vez de
“Educação a tempo inteiro”. A Confap insiste neste caminho.
No actual quadro de organização
das escolas os alunos podem estar na escola entre as 8h (ou 7:30 em algumas
escolas) e as 19h (19:30 em algumas escolas), é obra!
É preciso o maior dos esforços,
espaços, equipamentos e recursos humanos qualificados para que se não
transforme a escola numa “overdose” asfixiante para muitos miúdos e um clima
pouco positivo de trabalho para todos profissionais que nela trabalham.
É verdade que existem boas
práticas neste universo mas também conhecemos situações em que se verifica a
dificuldade óbvia e esperada de encontrar recursos humanos com experiência e
formação em trabalho não curricular com crianças a partir dos seis anos.
Acresce que muitas escolas, fruto
da concentração de alunos e do número de alunos por turma, não possuem espaços
ou equipamentos que permitam com facilidade o desenvolvimento de actividades
fora do figurino mais habitual de actividades de natureza escolar.
Em muitas situações, apesar do
empenho dos profissionais (alguns não o são por falta de qualificação
adequada), apesar dos alunos estarem “guardados” o benefício imediato é quase
nulo e a consequência a prazo poderá ser a desmotivação, no mínimo.
Neste quadro, manter aos alunos
onze meses na escola é de um enorme risco.
Creio que a Confap andaria melhor
se promovesse, dentro das suas competências, a discussão sobre a organização do
trabalho, os horários e políticas de família, para que as famílias, quando
fosse possível evidentemente, pudessem ter alternativas de horários laborais
que lhes permitissem mais disponibilidade para os filhos.
Seria também de explorar a
possibilidade de recorrer a outros serviços e equipamentos das comunidades,
desportivos ou culturais, por exemplo, que respondessem às necessidades de
crianças e jovens e não mantê-los na escola, a resposta mais fácil mas com
inconvenientes que me parecem claros. Aqui sim, parece-me importante o papel
das autarquias.
Na mesma lógica da pretensão
expressa pela Confap por que não avançar com a proposta de que as escolas
estejam abertas, por exemplo, à sexta à noite de modo a permitir vida cultural
ou social dos pais?
Sim, é anedótico e demagógico mas
trata-se de sublinhar que, por um lado, a escola não pode ser a solução para
todos os problemas das famílias, crianças e jovens e, por outro lado, nem
sempre os interesses dos pais coincidem com os interesses dos filhos.
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