Cerca de 175 000 alunos do
ensino básico do 2º, 5º e 8º ano do ensino básico iniciam hoje a realização das
provas de aferição. Estes alunos pertencem a 2800 escolas, as que decidiram
realizar este ano estas provas e que correspondem a 57% do universo de escolas.
Como já aqui tenho escrito, este
processo desenvolveu-se com vicissitudes dispensáveis e com conteúdos que me
levantam alguma reserva embora considere genericamente que as provas de
aferição são uma opção correcta.
A eliminação dos exames e a sua
substituição pelas provas de aferição não ocorreu com o calendário mais
aconselhável, depressa e bem não há quem.
Por outro lado, as reacções
levaram o ME a definir que em nome da autonomia as escolas decidiriam se as
realizariam ou não este ano. No entanto, curiosamente, a autonomia das escolas
nesta matéria extingue-se para o próximo ano pois as provas serão de realização
obrigatória. Evitável.
Como também tenho afirmado, continuo
com muitas dúvidas sobre a realização das provas de aferição em anos
intermédios dos ciclos, 2º. 5º e 8º. Uma aferição, creio, deverá ser realizada
no final de um período de aprendizagem. Só nessa altura será possível “aferir”
os resultados que se encontram face aos resultados que se esperam e ter uma
visão global comparativa.
Uma avaliação durante um período
de trabalho com o objectivo de detectar dificuldades e corrigir trajectórias é
evidentemente um requisito de qualidade mas é, do meu ponto de vista, uma
avaliação de diagnóstico, de regulação, não de aferição.
Por outro lado, no seu desenho e
conteúdo, estas provas de aferição são mais completas que o modelo antigo o que
me parece de sublinhar.
Em primeiro lugar, no 1º ciclo
contemplam a área curricular “Estudo do Meio” e para o ano contemplarão as
Expressões.
No 5º e 8º este ano serão apenas
avaliadas as áreas de Português e Matemática mas a partir do próximo ano envolverão
rotativamente outros conteúdos curriculares.
É ainda relevante que em
Português será também avaliada a componente da oralidade.
Uma outra questão que também já
referi em textos anteriores é a disponibilização para pais e encarregados de
educação de um Relatório detalhado do desempenho dos seus educandos nas provas
de aferição. As escolas, terão também, naturalmente, a informação completa.
Entendo, claro, que os pais e
encarregados de educação devem ser, tanto quanto possível, envolvidos e
informados sobre o trajecto escolar dos seus educandos. No entanto, também sei
das dificuldades sentidas neste envolvimento e o nível de literacia e
qualificação escolar dos pais e encarregados de educação, factor que continua,
aliás, a ser uma das variáveis mais fortemente associada ao desempenho escolar
dos filhos.
Sendo provável que os alunos com
desempenho mais baixo terão os pais com menor nível de qualificação escolar
coloca-se uma questão em termos de educação familiar. Que farão os pais destes
alunos com o “relatório” que receberão sobre o desempenho dos filhos nas provas
de aferição? Partindo do pressuposto da sua dificuldade em os ajudar e da
impossibilidade de recorrer a ajudas externas à escola fica a eterna questão,
que fará a escola com estes resultados que, aliás, serão certamente coerentes
com os resultados das avaliações realizadas em sala de aula pelos professores
no âmbito do seu regular processo de trabalho?
Aqui surgem algumas dúvidas pois, defendendo as provas de aferição como instrumento regulador e imprescindível
como ferramenta contributiva para o trabalho de alunos e professores, coloca-se
uma questão, terá a generalidade das escolas recursos (tempo, docentes e
técnicos) e autonomia para organizar dispositivos de correcção de trajectórias
escolares de insucesso ou em risco detectadas nestas provas de aferição?
Gostava de ser optimista, quero
ser optimista mas … espero para ver.
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