Que será necessário para que se
entenda que políticas de empobrecimento e proletarização da economia e do
trabalho, com baixos salários e precariedade, não produzem desenvolvimento?
Na verdade, boa parte dos vencimentos
em empregos mais recentes, mesmo com gente qualificada, não são um vencimento,
são um subsídio de sobrevivência, uma indignidade. Veja-se o caso hoje relatado no JN de docentes universitários com 650 € de vencimento mensal.
Um caminho de diminuição dos
custos do trabalho através do aumento da carga horária, da precariedade e do
abaixamento de salários não será a forma mais eficaz de combater o desemprego,
promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a
proletarização da economia e o empobrecimento das famílias não poderão ser a
base para o desenvolvimento e promoção de coesão social. Neste cenário, os
desequilíbrios fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, a
natureza da legislação laboral favorável à precariedade e insensibilidade
social e ética de quem decide ou emprega, promovem a proletarização do mercado
de trabalho mesmo em áreas especializadas e com gente altamente qualificada ou
mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de
"estágio" sem qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a
merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da dignidade.
É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem” a
"migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de
período de um indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta dramática
situação vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai esmagando novos
grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
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