terça-feira, 26 de janeiro de 2016

QUEM PASSA MAL NÃO APRENDE

"Sabemos que há crianças que apenas têm direito à educação na nossa Constituição", disse Tiago Brandão Rodrigues, a propósito do estudo ontem divulgado segundo o qual nove em cada dez crianças retidas nas escolas portuguesas são oriundas de famílias com carências socio económicas.


O trabalho ontem divulgado realizado pelo CNE e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos espelha uma realidade que todas as pessoas que se movem no universo da educação conhecem e reconhecem, a esmagadora maioria dos alunos com insucesso é oriunda de famílias com estatuto económico e social muito baixos e vivem em situação de pobreza e carência. Aliás, o Ministro da Educação assumiu isso mesmo hoje na Assembleia da República.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Um Relatório de 2013, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história que conto com frequência e foi umas das maiores lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

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