O trabalho ontem divulgado realizado
pelo CNE e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos espelha uma realidade que
todas as pessoas que se movem no universo da educação conhecem e reconhecem, a
esmagadora maioria dos alunos com insucesso é oriunda de famílias com estatuto
económico e social muito baixos e vivem em situação de pobreza e carência. Aliás,
o Ministro da Educação assumiu isso mesmo hoje na Assembleia da República.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento
escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias
constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando
são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao
nível das necessidades básicas.
Um Relatório de 2013, "Food
for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das
crianças terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as
óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de
que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo,
miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos
as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de
proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é
“normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias
sempre me lembro da história que conto com frequência e foi umas das maiores
lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao
passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem
cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse
traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza,
explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se
ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não
aprendem e vão continuar pobres.
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