No Público de hoje surge uma peça
interessante sobre a falta de mobilização do eleitorado jovem para a
participação nas eleições traduzindo-se em elevados níveis de abstenção superiores
aos de outros escalões etários que também já são elevados. Algumas notas.
Do meu ponto de vista existe uma
questão central. Como muitas vezes tenho referido, o modelo e cultura política
instalados há décadas na nossa comunidade, a partidocracia, fomentam, explicita
ou implicitamente, o afastamento de grande parte dos cidadãos da participação
cívica activa pois, basicamente, ela corre por dentro ou sob tutela dos
aparelhos partidários. Aliás, os níveis crescentes e muito altos da abstenção
em sucessivas eleições espelham isso mesmo.
Tal cenário alimenta um
significativo e comprovado desinteresse dos jovens, mas não só, pela coisa
pública e pelo envolvimento activo. Creio também que o grau de qualificação que
as gerações mais recentes atingem é relevante nesta atitude crítica ou
desinteressada. A participação dos jovens na coisa política tem sido conformada,
quase que exclusivamente, às juventudes partidárias, que servem, com excessiva
frequência de trampolim para os lugares políticos. Entre as várias lideranças
partidárias actuais e recentes temos inúmeros exemplos deste “alpinismo”.
Lembrar-se-ão que há algum tempo,
o Dr. Fernando Negrão, figura de relevo no PSD defendia que os adolescentes do
3º ciclo "não deveriam ter contacto com a Constituição". Elucidativo.
Por outro lado, esse desinteresse
pela participação cívica, alinhada nos aparelhos, alia-se a um outro entendimento
de consequências extremamente importantes, a falta de esperança e confiança em
que as coisas possam tornar-se diferentes, ou seja, isto não muda, não adianta.
Talvez a antecipação da idade
para votar possa ser um caminho para alterar.
A questão não está na agenda. No
entanto recordo que o BE tinha no seu programa eleitoral o direito ao voto a
partir dos 16 anos. Creio, não tenho informação actualizada, que o voto sem
restrições a partir dos 16 anos apenas se verifica na Áustria, registando-se
menor abstenção que no escalão 18-20 anos, o que sugere o interesse dos mais
jovens pela participação cívica.
Na verdade, em Portugal e aos 16 anos,
as pessoas têm a possibilidade legal de casar, trabalhar ou serem
responsabilizados criminalmente. Porque não a acessibilidade ao voto?
Dizem alguns que estes
adolescentes não terão maturidade para o uso "responsável" do voto.
Provavelmente, algumas das pessoas que entendem que as pessoas com 16 anos não
têm maturidade, ficarão indiferentes ao espectáculo indecorosos de
"manipulação" e "compra" dos votos a que assistimos em
todos as campanhas eleitorais, que envolvem desde as ofertas, os passeios, as promessas
que não se vão cumprir, até às recompensas com lugares aos mais empenhados e
melhor colocados nos aparelhos. Parece-me fraco o argumento se considerarmos o
que socialmente e pessoalmente as pessoas com 16 anos são capazes e como tal
consideradas pela comunidade e pela lei, relembro, capazes de casar e
trabalhar, por exemplo.
Deve, no entanto, registar-se que
nos últimos tempos parece estar a emergir alguma motivação para a acção cívica
mas, significativamente, fora da tutela partidária. São exemplos deste caminho
várias manifestações envolvendo movimentos como "Que se lixe a
Troika"; "Movimento dos Indignados" ou "Precários
Inflexíveis" em que a participação de jovens parece importante.
Gente mais nova, pode trazer
comportamentos e ideias mais novas.
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