terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O RAPAZ QUE CRESCEU DEPRESSA

Era uma vez um Rapaz, desculpem mas as histórias têm de começar assim, que mesmo em pequeno não parecia pequeno. Eu explico.
Logo de gaiato interessava-se mais por estar perto dos adultos que dos miúdos da sua idade, tinha comportamentos que espantavam as pessoas pois eram praticamente a cópia de um adulto bem comportado. Gostava de conversar com os adultos e interessava-se pelos temas de conversa que, normalmente, são mais habituais nos adultos. Não revelava particular interesse por coisas típicas dos mais pequenos. Nunca lhe conheceram uma asneira ou disparate daqueles que os miúdos fazem.
A família revia-se enlevada nos elogios que os outros pais faziam, “que maturidade!”, “tão adulto!”, “que inteligente, nem parece ter a idade que tem!”. Estranhamente, até a roupa de que gostava era mais do género adulto certinho do que de miúdo.
Os pais sempre o incentivaram neste estilo e alguns professores felicitavam os pais pela excelente educação que o Rapaz revelava. E assim se foi passando a vida do Rapaz que cresceu depressa. Estranhamente para toda a gente quando ficou mais crescido começou a entristecer e sentir-se infeliz. Todas as noites o Rapaz sonhava que era pequeno e brincava com os miúdos e miúdas da sua idade a todas as brincadeiras que tinha visto fazer e nunca quis participar, sonhava que fazia asneiras nas aulas e que pregava partidas a professores e aos outros adultos. Sonhava que era adolescente e tinha uma namorada com quem trocava beijos às escondidas, fumava uns cigarros sem os pais saber e saía com os amigos para ir a ouvir a música. Sonhava que dizia asneiras e se vestia como os outros rapazes. Quando acordava e se olhava no espelho percebia que a sua infância e juventude não passavam de sonhos e voltava a sentir-se infeliz.
Ninguém pode passar sem ser miúdo e jovem, ninguém pode crescer depressa.
Por isso, por favor, não roubem a infância às pessoas mais pequenas.

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