A imprensa de hoje refere dois
episódios de alegada violência em contexto escolar. De um terá resultado a
morte de uma aluna e do outro um ferimento ligeiro produzido por uma faca.
A questão da violência em
contexto escolar, envolvendo só alunos ou alunos, funcionários e professores é
importante e deve estar sempre na agenda.
Não sou, longe disso, dos que
entendem que as escolas são um inferno, não são e acho que podemos e devemos
confiar na escola pública apesar dos maus-tratos que tem sofrido. No entanto, também
sei que episódios desta natureza são mais frequentes do que desejaríamos.
Algumas notas repescadas sobre esta
matéria, suficientemente complexa para que sejam tantas as dúvidas quantas as
certezas, muitas.
Sabemos de há muito que a escola foi,
é, será sempre, um reflexo do contexto económico, social e cultural, bem como
do sistema de valores em que se integra. Neste quadro, em tempos de violência,
a escola espelha essa violência, em tempos de sentimento de insegurança, a
escola espelha essa insegurança, em tempos de sentimento de impunidade, a
escola espelha esse sentimento de impunidade. Por tudo isto não é possível,
como alguns discursos o fazem, responsabilizar exclusivamente a escola, por
estas situações. A escola fará certamente parte da solução mas não é, não pode
ser, A solução, esta passará por intervenções concertadas no âmbito das
comunidades.
Políticas públicas que não
defendam a qualidade e o investimento na escola pública promovendo cortes excessivos
de docentes, técnicos e funcionários têm necessariamente implicações.
Um segundo aspecto prende-se com
o trabalho com as famílias. Muitos casos de violência escolar estão associados,
não estou a falar de uma relação de causa-efeito, à acção negligente ou menos
competente por parte das famílias. Continuo fortemente convicto de que nas
escolas devem ser criados dispositivos, com recursos, humanos e de tempo por
exemplo, para trabalho sistemático e estruturado com as famílias. Com as
metodologias mais frequentes, reuniões de pais e convocatória para famílias
problemáticas irem à escola, que se revelam ineficazes, a maioria dos pais nem
sequer aparece, creio que será muito difícil alterar ou, pelo menos, minimizar
os efeitos das variáveis familiares nos comportamentos dos miúdos.
Uma outra questão ainda dentro da
instituição escola, prende-se com o facto conhecido de que os problemas mais
significativos sentidos nas escolas, indisciplina, violência, delinquência,
bullying, etc. ocorrem, obviamente, nas salas de aula e, sobretudo nos espaços
de recreio. Deixando de lado, de momento, a sala de aula parece-me fundamental
que se dê atenção educativa aos tempos e espaços de recreio escolar.
Em muitas escolas a insuficiência
de pessoal auxiliar não permite a ajustada supervisão desses espaços. Por outro
lado, a sua formação em matérias como supervisão educativa e mediação de
conflitos, por exemplo, e, ou, o entendimento que têm das suas competências,
muitas não valorizadas pela própria comunidade, leva a alguma negligência ou
receio de intervenção.
Talvez não seja muito popular mas
digo de há muito que os recreios escolares são dos mais importantes espaços
educativos, aliás, muitas das nossas memórias da escola, boas e más, passam
pelos recreios. Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos deveria
ser da responsabilidade de docentes. A reestrutura da enorme carga burocrática
do trabalho dos professores, dos modelos de organização e funcionamento das
escolas, por exemplo, poderiam libertar horas de docentes para esta supervisão
que me parece desejável.
Continua a ser verdade que a prevenção
é aforma mais eficaz de lidar com estes fenómenos. A prevenção implica custos e
recursos que a não existirem sairão bem mais caros pelas consequências.
É uma questão de opção política.
Em educação não há despesa, há investimento.
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