O DN tem hoje uma peça muito
curiosa sobre as memórias nostálgicas de um tempo “socialmente incorrecto” em que se
fumavam cigarros com uma enorme carga de nicotina e de marcas já desaparecidas
ou em vias disso. Algumas dessas marcas adquiram um estatuto de longevidade que
não nos deixa esquecer delas. No meu caso foi durante muitos anos o mítico Português
Suave sem filtro, nunca gostei de tabaco com filtro. Às vezes também recorria
ao tabaco de enrolar.
Já que entrei nas teias da
memória deixem-me partilhar a experiência do primeiro cigarro, apenas o
primeiro de uma longa, demasiado longa, série.
Naquela idade em que queremos
crescer depressa para fingir que crescemos adoptamos comportamentos dos mais
crescidos, o cigarro era uma das opções de “aceleração” do crescimento.
Dado que o dinheiro não era
muito, aproveitei a boleia do meu primo, apenas com uns meses a mais e que
também queria ser crescido, para experimentarmos em conjunto.
A experiência, no que respeita
aos recursos envolvidos até ficou barata, nós os dois fornecemos a mão-de-obra
e a vontade e o meu primo surripiou da loja do pai um maço para o grande
evento.
No dia aprazado, o meu primo
aparece com um maço, se não me falha a memória, da marca Sintra que tinha uma
novidade, filtro de cristais, isso lembro-me bem e dava um ar mais sofisticado
à experiência. Tratava-se agora de escolher o palco. Optámos por nos sentarmos
debaixo de um damasqueiro numa quinta perto das nossas casas, naquele tempo
havia quintas na zona onde morava. E começámos.
Com muita tosse, caretas, falta
de jeito, uma enorme dor de cabeça final e uma sensação de nauseado que não
tinha jeito, quase despachámos o maço e quase nos despachámos a nós, tal era o
mal-estar.
Quando voltámos, meio enjoados e
com um fardo enorme aos ombros, vínhamos a pensar que se calhar não sabíamos
fumar, porque as pessoas que fumavam pareciam gostar e ficar bem e nós
estávamos num estado lastimável.
Na verdade, crescer não é fácil,
dá algumas dores e embaraços. Eu que sou um tipo persistente e queria mesmo
crescer, aprendi a fumar, sempre tabaco sem filtro, o referido Português Suave,
e depois o cachimbo. Assim continuei por muitos anos.
Um dia, achei que já não
precisava de crescer mais e deixei de fumar.
Às vezes ainda tenho saudades.
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