O debate entre Sampaio da Nóvoa e
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou mais um capítulo ao que desde o início me
pareceu que iria acontecer, uma campanha tóxica.
Não tenho nada contra a
agressividade desde que ela seja como suporte de ideias e não como forma de
intimidação, ataque pessoal e máscara do nervosismo indisfarçável que o
experiente Marcelo Rebelo de Sousa evidenciou.
É claro que realizar umas
prédicas sem contraditório compõem a imagem e dão projecção mas o confronto de
ideias é para outro patamar e exige … ideias.
Marcelo Rebelo de Sousa gastou um
tempo enorme em torno do "pecado original" de Sampaio da Nóvoa, uma suposta falta
de currículo político.
Marcelo Rebelo de Sousa subscreve o entendimento de boa parte das nossas elites políticas que criaram
e se alimentam da “partidocracia”, vida política é vida partidária. Não compreendendem porque não querem compreender que política é também cidadania e vida cívica. O
currículo de Sampaio da Nóvoa em termos de cidadania e vida cívica é sólido e reconhecido mas ... “não é um de nós”, nunca desempenhou funções
emergentes a partir do aparelho de um partido o que o torna inelegível. A
partidocracia capturou a cidadania e a participação cívica e entende que não
existe vida para além dos partidos. Não perdoa a Sampaio da Nóvoa o atrevimento
de se candidatar e logo à Presidência ou, como disse elegante e
elucidativamente Marcelo Rebelo de Sousa, de “soldado a general”. Notável.
Marcelo Rebelo de Sousa voltou a
insistir na antidemocrática, cínica, demagógica e hipócrita tese dos gastos das
campanhas em tempo de dificuldades para as pessoas. Retomo o que aqui já
afirmei.
É antidemocrática e demagógica
porque vai ao encontro dos discursos de muita gente que entende que a
democracia não tem custos. Tem custos e é por isso que as campanhas podem fazer
parte da ... democracia. Se assim não
for apenas os muito ricos ou os despudorados que andam décadas a receber muito
dinheiro num tempo de antena sem fim poderiam fazer chegar a sua mensagem aos cidadãos
eleitores. Isto não quer dizer que não defenda contenção e menos circo nas
campanhas eleitorais.
É cínica e hipócrita porque
esquece as vantagens que esse continuado tempo de antena diletantemente usado a
"fazer opinião", "a adivinhar o futuro" e a "educar as
massas" lhe dão face a outros candidatos que precisam de meios para fazer
chegar ideias aos eleitores.
É cínica porque joga com os
sentimentos antipolítica dos cidadãos para diabolizar os candidatos que sem
campanha ... não chegam às pessoas e as eleições democráticas seriam um passeio
para Marcelo. Estranho entendimento de democracia. Aliás não é original, Cavaco
Silva é um mestre nesta manhosa "arte".
É ainda cínica e hipócrita porque
usa como arma de arremesso as dificuldades e tragédias da vida das pessoas sem
que se oiça uma palavra ou uma ideia para o seu projecto enquanto Presidente da
República para minorar as dificuldades de que despudoradamente se serve para se
fazer eleger sem concorrência.
Ficou de novo patente a
extraordinária competência de Marcelo Rebelo de Sousa num número circense de
malabarista das palavras e das ideias. Com o maior despudor afirma e defende
ideias e o seu contrário, joga com as palavras que foi profusamente deixando e
num notável e sempre na crista da onda como excelente surfista político que é e
quer continuar a ser nega e contradiz-se para não perder a onda.
O seu entendimento das funções da
Presidência é semelhante ao de Cavaco Silva mas com uma coreografia diferente,
assim como uma espécie de restyling com que tantas vezes se tenta vender um
produto velho como se fosse, parecesse, novo.
Como sabem, sou suspeito, desde sempre
apoiei a candidatura de Sampaio da Nóvoa e vi nela uma oportunidade de mudança.
O debate de hoje tal como tudo o
que tem vindo a acontecer sedimentou a essa escolha
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