Senhor Presidente do IAVE seja
bem vindo ao grupo dos que não estão convencidos de que os exames, só por
existirem, melhoram a qualidade do trabalho de alunos e professores ou mesmo os
resultados escolares, de que não podem ser o tudo na vida das escolas, sobretudo nos anos em que se realizam.
Não tenho nenhum princípio
fundamentalista contra os exames, embora no 1º ciclo me pareçam dispensáveis,
as provas aferidas cumpriam o papel de regulador do sistema. No entanto,
entender que os exames, quanto mais melhor, só por existirem são fonte de
qualidade, parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a
febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
Como tantas vezes afirmo, a
qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e
regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho
dos professores, com a definição de currículos adequados e de vias
diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de
promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de
objectivos de curto e médio prazo, etc.
Parece de recordar que o
Relatório da OCDE de 2012 “Reviews of Evaluation and Assessment in Education”
relativo a Portugal, citei-o neste espaço, referia uma excessiva centração da avaliação na dimensão sumativa. Como muitas vezes tenho referido, não creio que
mais exames, só por si, fomentem qualidade, tal como o Relatório da OCDE e agora
o Presidente do IAVE reconhecem.
No entanto, contrariamente à
afirmação do Presidente do IAVE a pressão e as práticas que se observam nas
escolas, todo o trabalho definido em função da preparação para exames, não é da
responsabilidade exclusiva de professores e pais mas da cultura política instalada pelo
MEC, a examocracia, os exames são o tudo da vida da escola. Aliás, os exames constituem-se, do meu ponto de vista, como uma arma privilegiada da gestão política do universo da educação. Sempre o foram.
O mesmo Relatório da OCDE afirma
a importância de um modelo de ensino centrado no aluno e em que este seja
envolvido no planeamento e organização do trabalho. O Professor Nuno Crato vai
certamente achar uma ideia muito “eduquesa”, os alunos estão na escola para
trabalhar, para aprender e para fazer exames não para esta deriva
construtivista de se envolverem no processo de ensino e aprendizagem. Aliás,
curiosamente, este tipo de princípio é um dos eixos centrais da reforma que o
sistema de educação finlandês está a lançar para 2016.
Tenho, finalmente, uma enorme
curiosidade sobre o que poderá ser a reacção ou leitura de Nuno Crato a esta
entrevista do Presidente do IAVE.
4 comentários:
Interessante, a entrevista. Talvez sob pressão de eleições legislativas....
Agora, sempre tive esta dúvida:
"a importância de um modelo de ensino centrado no aluno e em que este seja envolvido no planeamento e organização do trabalho"
Talvez devido a tanta volta e reviravolta das políticas educativas e dos processos de ensino-aprendizagem, o que é que isto quer dizer, Zé Morgado?
Sinceramente, já não sei. Pior, só sei que nada sei.
Um telegrama. É claro que os discursos em Ciências da Educação sobre os mesmos termos ou ideias são de uma latitude que eu diria (quase) "cada cabeça, cada sentença". Sabendo isto e a propósito da frase que refere, de há muito que defendo que um eixo central da educação e da aprendizagem é a autonomia, em qualquer idade, desde o berço. Também sou professor e não abdico da minha função de ensino mas acredito que se o aluno se organizar eficazmente, se estiver motivado, se os currículos forem mais abertos e menos prescritivos (sempre a velha Finlândia), se tivermos uma avaliação que não sobrevalorize produtos em detrimento de processos, a coisa tem condições para correr melhor. Para isso também concorre a política educativa adequada e não uma política contabilística, número de alunos por turma ajustado aos contextos, autonomia da escola e dos professores, (o MEC não confia nem numas nem noutros), dispositivos de apoio adequados, oportunos e competentes, etc. Finalmente, o que não acontece não é uma fatalidade, como diriam os Trovante "fizeram os dias assim". Não têm que ser assim.
O meu receio é que se passe da PAIDEIA e da ESCOLA ABERTA para os PRODUTOS e vice-versa, em constante movimento circular, sem que nada seja verdadeiramente analisado antes de ser implementado. Na Educação, nas políticas educativas, não há espaço para análise. Implementa-se e "desimplementa-se" mais rapidamente do que se muda o edredão da cama.
E isto aborrece. Os meus filhos têm ano e meio de diferença de idade e tiveram programas, cargas horárias, etc, diferentes.
Ano e meio de diferença de idade!
Como já escrevi noutro comentário, a deriva das agendas, das várias agendas
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