sábado, 13 de março de 2010

UM HOMEM DE MUITAS MARÉS

Quando era mais miúdo um amigo do meu pai, já mais velho do que ele usava uma expressão de que nunca mais me esqueci e que hoje, sem perceber exactamente porquê, me veio à memória. Dizia ele de alguém que “era um homem de muitas marés”. Significava com isto que era uma pessoa com capacidade para lidar com os problemas e situações que a vida lhe criava sem parecer excessivamente preocupado ou aflito.
Acho engraçada esta ideia de um homem de muitas marés. Dá para imaginar marés-altas que nos podem deixar sem pé. É possível pensar em marés baixas que levam o mar para tão longe que nem os pés nos molha se não formos atrás da maré. E que dizer das marés vivas que revolvem o mar e quando se conjugam com temporal fazem um mar bravo que até mete medo. E as marés que sobem no escuro da noite e que não percebemos muito bem até onde vão subir. E claro, uma maré vazia numa noite quente de verão com uma lua grande que transforma a praia num aconchego com a alma iluminada.
Já não vou a tempo de dizer isto ao meu pai e ao amigo dele, mas acho que somos todos pessoas de muitas marés. É de estarmos vivos.

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