Quando era mais miúdo um amigo do meu pai, já mais velho do que ele usava uma expressão de que nunca mais me esqueci e que hoje, sem perceber exactamente porquê, me veio à memória. Dizia ele de alguém que “era um homem de muitas marés”. Significava com isto que era uma pessoa com capacidade para lidar com os problemas e situações que a vida lhe criava sem parecer excessivamente preocupado ou aflito.
Acho engraçada esta ideia de um homem de muitas marés. Dá para imaginar marés-altas que nos podem deixar sem pé. É possível pensar em marés baixas que levam o mar para tão longe que nem os pés nos molha se não formos atrás da maré. E que dizer das marés vivas que revolvem o mar e quando se conjugam com temporal fazem um mar bravo que até mete medo. E as marés que sobem no escuro da noite e que não percebemos muito bem até onde vão subir. E claro, uma maré vazia numa noite quente de verão com uma lua grande que transforma a praia num aconchego com a alma iluminada.
Já não vou a tempo de dizer isto ao meu pai e ao amigo dele, mas acho que somos todos pessoas de muitas marés. É de estarmos vivos.
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