Quando aqueles pais pensaram que para se cumprirem precisavam de um filho imaginaram um Desejo. E o Desejo nasceu. Os pais tinham imaginado uma rapariga e o Desejo era um rapaz e tinha uns olhos pequenos e escuros quando os pais sonharam um Desejo com olhos grandes e claros.
O Desejo foi crescendo como todas as outras crianças mas os pais esperavam uma criança que não fosse como as outras crianças, ou seja, mais esperto, mais falador, mais forte, mais tudo.
O Desejo entrou na escola e foi cumprindo sem grandes sobressaltos mas também sem grandes rasgos o que não correspondeu bem ao que os seus pais esperavam, um aluno brilhante. O Desejo enquanto crescia foi percebendo e sentindo como estava longe, cada vez mais longe do Desejo que os seus pais tinham imaginado. Começou por tentar esforçar-se para ser um Desejo parecido com o que os pais esperavam. Depressa percebeu que, por mais que tentasse nunca conseguiria ser o Desejo.
De mansinho começou a mostrar um mal-estar crescente. Cresceu tanto esse mal-estar que ficou maior que o rapaz que, então, além do mal-estar aprendeu o medo.
Um dia, o Desejo não aguentou aquele medo gelado e fugiu, correu pelas ruas até encontrar um grupo de Indesejados como ele.
Não conheço o fim da história.
1 comentário:
A sua história emocionou-me. Tantos Desejos Indesejados...
Gostava que o fim da história fosse Feliz. Talvez um dia, se todos quisermos...
Como escreveu António Gedeão:
Não há, não,
Duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
Não há, de certeza, duas folhas iguais.
(…)
Desejo-lhe um bom dia, professor.
Bem-haja!
Mariana
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