domingo, 14 de março de 2010

NEM O LUTO

A morte é sempre uma tragédia. A morte de uma criança é uma tragédia ainda maior. A morte de uma criança nas circunstâncias em que se terá verificado a do Leandro em Mirandela, é algo de devastador que nos deixa a todos, creio, a sensação de que falhámos onde não podíamos, na protecção dos miúdos.
A experiência de vida e os conhecimentos dizem-nos que a morte ainda é mas trágica quando não temos o corpo. Dizem os técnicos que se torna mais difícil fazer o luto. A presença do corpo e o destino que entre nós lhe é dado contribuem para o início de um processo doloroso mas indispensável de reparação, de reconstrução de uma relação que se transforma e assenta em dimensões outras.
Ao que a imprensa nos diz, terminaram as buscas para encontrar o corpo do Leandro. Do ponto de vista dos dispositivos e esforços envolvidos e até, eventualmente, de questões de natureza técnica que não sei se se colocam, mas que certamente desconheço, posso fazer um esforço para entender.
Mas também entendo muito bem a tarefa enorme, de um peso inimaginável, que espera a família e os amigos do Leandro. Nem o corpo dele está presente para que se faça uma despedida e se tente iniciar o processo reparador do luto.
Não acredito no destino e não falo em responsabilidade, mas nem na morte conseguimos encontrar o Leandro. Não o encontrámos quando estava vivo e não conseguimos encontrá-lo depois de morto.
Depois de tudo o que se passou, este era o último texto que queria escrever sobre o Leandro, um Rapaz forte numa terra de gente fraca, como lhe chamei há dias.

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