Como há algum tempo afirmei aqui no Atenta Inquietude, as tragédias que por vezes nos atingem têm a consequência “positiva”, por assim dizer, de nos obrigar a prestar atenção aos fenómenos que as provocam ou envolvem, foi assim com a questão da pedofilia, desencadeada pelo caso Casa Pia e passa-se o mesmo agora com a questão do bullying e violência escolar após a tragédia que envolveu a morte de uma criança e de um professor. Também na altura referi que depois da poeira mediática começar a assentar e dos discursos reactivos populistas, demagógicos e desinformados se aquietarem será altura de começar seriamente a pensar.
Do meu ponto de vista, como já disse, este fenómeno, o bullying, nas suas diferentes formas exige duas abordagens cruciais e complementares, atenção e dispositivos de resposta.
A primeira e fundamental abordagem é assumir uma atitude estruturada, informada, intencional de estar atento aos comportamentos dos miúdos. Como se refere na peça do Público, os pais podem e devem ser informados sobre um conjunto de sinais nos discursos e comportamentos dos miúdos que podem sugerir o seu envolvimento em situações desta natureza, como vítimas ou como agressores. Muitas vezes, os pais notam diferenças na postura dos filhos mas por medo, desconhecimento ou negligência não percebem esses sinais. Este é um aspecto fundamental. Por outro lado, também nas escolas esses sinais devem ser conhecidos de todos os intervenientes presentes naqueles espaços, designadamente, de funcionários e professores. Sei que não será uma proposta pacífica, mas defendo de há muito que os intervalos nas escolas, circunstância em que maioritariamente emergem incidentes, deveriam ser supervisados por professores, por razões óbvias. Também aqui se torna imprescindível uma atitude de “querer ver”, portanto atenta, mas informada e capaz de entender e escrutinar os sinais transmitidos por vítimas e agressores.
A segunda grande questão, é que para problemas desta complexidade, a resposta tem também de ser mais complexa, ou seja, para além da componente punitiva, importa perceber que dispositivos de apoio deverão estar estruturados nas escolas ou ao alcance rápido e oportuno das escolas para lidarem com este tipo de fenómenos que, como disse e devido à complexidade, estão, por vezes, para além da sua capacidade de resposta imediata. Noutro espaço poderia discutir-se qual a natureza dos recursos e trabalho a desenvolver por estes dispositivos de apoio, a questão aqui a registar é a sua imprescindibilidade.
Finalmente, apenas sublinhar, que qualquer forma de abordagem que se queira eficaz, tem, necessariamente, de assentar numa atitude de atenção e querer ver.
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