Tratar-se-á certamente de uma informação de rodapé condenada à discrição. Segundo o DN, nos últimos meses a administração fiscal em vindo a vender em hasta pública cerca de 81 propriedades por dia, sobretudo andares e moradias. Tal acção resulta de penhoras por incumprimento fiscal.
Não tenho dados que ajudem a perceber em que medida este incumprimento fiscal é resultado objectivo da crise económica ou, também, da velha cultura de evasão e manha na relação com o fisco. De qualquer forma não deixa de ser um dado extremamente significativo.
A este cenário devemos juntar o número, também muito elevado, de famílias que em situação de sobreendividamento entram em incumprimento das suas dívidas, sobretudo na área do crédito à habitação. Nos últimos meses a DECO, através dos seu gabinetes de apoio aos consumidores, tem vindo a relatar o número crescente de famílias incapazes de responder às dívidas. Devido à crise que também afecta o mercado imobiliário, a própria banca tem mais interesse em renegociar dívidas que a executar hipotecas. Se assim não fosse, o número de famílias que ficariam sem casa seria certamente maior.
Pode sempre dizer-se, com alguma razão, que o ímpeto e a pressão consumista, induzem alguma irresponsabilidade dos cidadãos gerando posteriormente situações de incumprimento ao menor sobressalto ou desequilíbrio. No entanto, é bom não esquecer a ligeireza negligente com que a banca durante muito tempo facilitava o crédito mesmo quando a taxa de endividamento já era perigosamente ameaçadora do equilíbrio dos orçamentos familiares.
Não é que esteja particularmente optimista, mas pode acontecer que as actuais dificuldades nos obriguem a repensar valores e comportamentos. A banca, que entretanto continua com lucros sólidos, já não tem o dinheiro tão acessível, elevou significativamente os spreads como é sabido e verificável na bastante maior dificuldade de acesso ao crédito. Mas eles são mais cuidadosos que nós.
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