Os trágicos episódios ocorridos nos últimos tempos no mundo da educação e as repercussões que se registam quer na comunicação social, quer na opinião pública, recordam-me o que se passou na altura em que eclodiu a questão crucial da pedofilia a propósito da situação na Casa Pia. Quero dizer com isto que, de repente, toda gente se espantou com algo que de há muito se verifica e que por negligência ou incompetência não tinha denúncia ou combate.
De facto, quem conhece o universo das escolas sabe, não pode deixar de saber, que as situações que estarão associadas à tragédia do aluno de Mirandela e do professor de Sintra são frequentes.
As tragédias agora conhecidas vêm, por um lado e de forma positiva, contribuir para que não possamos ignorar os problemas, ou seja, aumenta a atenção sobre estas questões. Por outro lado e de forma negativa, algum desconhecimento e muita demagogia podem, como está a acontecer, levar à emergência de alguns discursos perigosos, dirigidos quase que exclusivamente para o que poderemos chamar de “policialização” dos espaços escolares.
De há muito que me parece necessário repensar vários dos aspectos contidos nos modelos de organização e funcionamento das escolas. Sem hierarquizar e a título de exemplo, parece-me importante que o acompanhamento e supervisão dos intervalos fosse da responsabilidade dos professores, que se apostasse na presença regular de dois professores em algumas turmas e em algumas disciplinas, na definição de estruturas de mediação entre escola e famílias que prevenissem e interviessem mais oportuna e eficazmente. Parece-me também necessária a melhoria dos modelos de gestão e autonomia das escolas e agrupamentos, potenciando não só a responsabilidade das estruturas de direcção e coordenação, mas também a sua competência para afectar recursos e promover dispositivos julgados necessários. Parece-me ainda interessante a criação, não necessariamente nas escolas, mas fortemente ligadas a estas, de dispositivos de apoio a alunos e professores que minimizem o abandono e isolamento em que muitos alunos e professores (sobrevivem) afundados em problemas de natureza pessoal sem acolhimento nos actuais modelos.
Finalmente, neste telegrama sobre a mudança necessária, sublinhar a imprescindível mudança nos conteúdos e estrutura curricular. Uma consequência desejável desta alteração seria a tentativa de que muitos dos professores pudessem ter mais tempo com menos alunos o que permitiria criar relações e referências reguladoras dos comportamentos escolares e sociais. A tutela já anunciou que a mudança poderá não passar de um “mero ajuste", o que me inquieta.
Aqui ficam algumas notas, demasiado breves porventura, mas que julgo de interesse considerar.
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