O JN refere em primeira página que só em Fevereiro cerca de vinte mil funcionários públicos requereram à Caixa Geral de Aposentações a passagem à situação de reformado, muitos deles com penalização por antecipação.
Seria interessante do ponto de vista sociológico e político investigar as causas deste "ímpeto reformista". Que levará tantas pessoas, muitas não são quadros superiores pelo que não terão reformas razoáveis a sair, mesmo sendo penalizadas por se reformarem antes do tempo definido?
Acho que se instalou um clima pesado, sem confiança e sem projecto. Um clima que alimenta a desistência e a impotência, "que fazer", "não vale a pena", isto não muda", são expressões que traduzem esse clima.
Parece claro que a crise económica não será estranha a este clima, mas também creio que as lideranças sociais, políticas, culturais, ou melhor, a falta de qualidade destas lideranças, os baixos níveis de credibilidade que lhes é atribuída, são factores que promovem a instalação de uma espécie de cansaço resignado. O Público mostra em inquérito hoje divulgado uma face desse cansaço, a maioria dos inquiridos acha que o Primeiro-ministro mentiu, todos mentem, mas a maioria também entende que deve continuar a governar, as pessoas afirma a necessidade de estabilidade, estão cansadas.
Este quadro de desânimo, este cansaço, constitui, parece-me um dos mais difíceis obstáculos que teremos de ultrapassar no caminho para o futuro, seja lá onde for e quando for.
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