terça-feira, 30 de março de 2010

A TENTAÇÃO

Como tenho vindo a referir aqui no Atenta Inquietude, quando a mediatização das questões de interesse para a comunidade decorre de incidentes e, sobretudo de incidentes graves, caso agora do bullying e da violência em espaços escolares, existe um aspecto imediato e de natureza positiva, a visibilidade e a atenção ganha pelos fenómenos, mas também se correm alguns riscos.
Nesta perspectiva e face às tragédias que envolveram a morte do Leandro, um aluno, e do Luís, um professor, as reacções, naturais aliás, podem promover uma deriva perigosa de "policialização" dos espaços educativos. Para além de algumas vozes que defendem apoios, recursos e formação, que envolvam alunos, professores e pais, e entre as quais me incluo, mas que soam baixinho, ouvem-se de forma bastante mais nítida e amplificada por uma comunicação social nem sempre atenta e preparada, as vozes que clamam, quase que exclusivamente, por mais repressão e dispositivos punitivos. É evidente, sublinho para que não restem dúvidas, que é necessário que se punam e responsabilizem comportamentos desadequados, mas tenho a maior das dúvidas de como se criminaliza o bullying proposta, ao que parece, em estudo pelo ME. Tratando-se o bullying de um fenómeno multi-dimensionado e complexo como se escrutina e quem escrutina comportamentos que, dependendo das circunstâncias, dos envolvidos, da regularidade e das consequências, tanto podem configurar bullying como um banal incidente que espelha o crescimento dos miúdos e a cultura e valores do mundo em que vivemos. Estamos a falar de uma decisão, considerar crime ou não, que é de uma enorme responsabilidade e que a experiência de quem conhece o meio mostra que nem sempre é fácil. No entanto, ceder à deriva populista da repressão em busca da autoridade perdida é uma enorme tentação.
Continuo convencido que estruturas de mediação entre a escola e a família, dispositivos de apoio a alunos, pais e professores, modelos mais eficazes de organização e funcionamento das escolas, supervisão dos intervalos por parte de professores por exemplo, formação nestas matérias, etc. para além, naturalmente, de formas eficazes e ágeis de aplicação de sanções, seriam bem mais eficazes.

Sem comentários: