Há alguns anos, muitos, era miúdo e recordo-me que muitas das conversas entre mim e os meus amigos começavam por "tens p'ra troca?". É verdade, passávamos uma boa parte do nosso tempo a trocar. Primeiro, porque tínhamos tempo, ainda não tinham inventado a escola a tempo inteiro e os ateliers de tempos livres que prendem o tempo, e depois porque tudo se trocava.
Trocávamos berlindes, cromos de variadíssimas colecções, trocávamos brinquedos, discos, roupa, etc. Tudo se podia trocar, até as ideias e as dúvidas que naquelas idades eram mais que muitas. O que acabávamos de receber parecia novo até trocarmos outra vez. Vivia-se uma espécie de economia global em escala micro.
Os tempos mudaram, naturalmente, e uma das grandes diferenças é que nunca mais ouvi um "tens p'ra troca?". De facto, raramente se encontra alguém interessado em trocar o que quer que seja, toda a gente parece exclusivamente interessada em comprar ou vender. Tudo o que adquirimos, e é muito, é para guardar ou deitar fora, já não se troca, isso é para gente "alternativa" com ar esquisito.
Nas ideias então é mesmo curioso, já não nos dispomos a trocar ideias, falamos como quem está a vender ideias esperando que o outro as compre ou, no mínimo, desista das suas que, obviamente, também não estamos interessados em comprar. Os múltiplos debates a que assistimos, independentemente dos assuntos e dos intervenientes, são bons exemplos.
Parece conversa de velho, mas tenho saudades do"tens p'ra troca?".
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