Creio que a grande maioria dos portugueses não tem a noção ajustada dos números que se seguem e que constam de um trabalho do DN. Entre Janeiro e Outubro de 2009, ano de impacto máximo da crise económica, os portugueses colocaram em paraísos fiscais, os chamados off-shores, qualquer coisa como 11,2 mil milhões de euros. Esta quantia é 12 vezes superior à verba colocada em igual período do ano passado. Sublinhe-se que estamos a falar do ano de 2009, marcado por milhares de falências e um aumento dramático do desemprego. Para termo de comparação e segundo a peça, este montante poderia anular o défice orçamental.
Não consigo entender como é que esta situação é tolerada apesar de alguns projectos de intenção de montar dispositivos de regulação e controle mais eficazes sobre as transferências de fundos para os paraísos fiscais.
Neste contexto, qualquer discurso sobre recuperação, sobre a necessidade de sacrifícios, sobre a enorme dificuldade de suportar em termos económicos um salário mínimo nacional de 475 €, posição subscrita por exemplo por Vítor Constâncio, o sonolento Governador do Banco de Portugal, não passa de um enorme exercício de hipocrisia.
Por vezes, quero ter algum optimismo e acreditar que é possível mas face a situações desta natureza e à inércia, quando não negligência, e falta de vontade política de a alterar, volto a um pessimismo descrente. Mas tenho pena e fico inquieto, será a este tipo de coisas que o Presidente da República se refere quando fala de situação explosiva?
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