sábado, 2 de janeiro de 2010

EM DIRECTO

J.M. Nobre-Correia tem hoje uma peça muito interessante no JN sobre jornalismo. Citando, “o jornalismo não pode ser confundido com uma actividade em que um profissional, portador de um micro e cuja imagem é captada por uma câmara, vai para a rua, fala de improviso e estende o micro a uma ou outra pessoa presentes no local”.
De facto, se por um lado já é perfeitamente excessivo o abuso dos directos em televisão, a qualidade desses trabalhos é, na maioria das vezes, deplorável.
Em primeiro lugar, o lado voyeurista e intrusivo, não distante, populista e manipulador de emoções é potenciado. Por outro lado, o improviso é algo de extremamente difícil, pelo que se pode assistir a discursos entre o patético, o imperceptível ou a conversa de café.
Na maioria das vezes os entrevistados não têm nada de substantivo a acrescentar à notícia e é ver o esforço dos “jornalistas” no sentido de “arrancar” qualquer coisa que “lá em casa” faça sentido. Qual o interesse jornalístico do “quer dizer, eu tava aqui e não vi bem, mas minha vizinha disse-me que o senhor primeiro gritou e depois disse que lhe batia, depois já não viu mais nada e ouviu os tiros”? Qual a justificação para que se faça um directo para mostrar, por exemplo, que dois carros bateram, não se verificaram danos corporais, entrevistar uma condutora com ar de “é a vida, que havemos de fazer”, ouvir o senhor “agente da “autoridade” e acabar com “daqui é tudo”? Não foi nada.
Neste universo dos directos desnecessários e do meu ponto de vista as grandes pérolas são as entrevistas a crianças, os mais difíceis entrevistados, em que se recorre aos incontornáveis “e estás a gostar?” ou “gostas de circo?” e os meninos de forma surpreendente dizem que sim, eis a notícia.
Não sendo especialista nestas áreas, não sei se a responsabilidade destes trabalhos decorre de decisões em matéria editorial ou da formação dos jornalistas mas lá que é mau, muito mau, é.

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