Quando era miúdo o meu pai e os outros pais usavam muito a expressão “andar na linha”. Nós percebíamos, com maior ou menor dificuldade qual era a linha e de uma forma geral seguíamos essa linha. É certo que nem todos o fazíamos com o mesmo rigor e empenho, ainda bem digo eu agora que o meu pai já não me ouve. Muitas vezes era uma linha dura e difícil de seguir, outros tempos.
Hoje raramente se ouve a expressão, não sei se se trata de uma questão de passagem de moda do termo ou se de uma questão de linha. Inclino-me para a segunda hipótese, embora o termo também possa ser actualizado. Na verdade, creio que perdemos um pouco a noção de linha, de rumo. Existem muitos pais que revelam a maior das dificuldades em estabelecer uma linha, um rumo, e orientar os miúdos mediante essa linha, esse rumo. Sinto, aliás, que, com frequência, os próprios pais se sentem perdidos, também não têm uma linha, um rumo. Emergem discursos e comportamentos erráticos, estabelece-se uma latitude excessiva e desreguladora do que deve ou não deve ser feito e, em último recurso, uma birra bem feita, dá a volta a qualquer linha tenuemente estabelecida.
Os próprios miúdos, com alguma frequência, se sentem perdidos, por um lado, com tantas linhas que do lado de fora se oferecem e, por outro, com uma ausência de linha que organize, que defina caminhos, no fundo, que balize a estrada da sua vida.
A grande questão é que os miúdos precisam desesperadamente de uma linha, não a linha que no meu tempo nos era imposta, mas sim a uma linha consistente ainda que flexível, dialogada mas decidida, definida com clareza nos seus limites mas que entende os desacordos.
Como sou um optimista moderado, acho que nós e os miúdos somos capazes de descobrir a linha, as linhas.
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