sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O MIÚDO QUE FICA À PORTA

Na sala de professores lá da escola, estava a Professora Joana quando entrou o Professor Velho, sabem, aquele que está na biblioteca e fala com os livros.
Olá Joana fazes-me companhia no chá da manhã?
Claro Velho, chá a dois é mais quente. Já sabes que quando te encontro aproveito para falar dos alunos, passamos o tempo de volta de papéis e mal temos tempo para pensar nos gaiatos. Conheces o Bruno? Aquele do 6º B, que já tem sido falado nas reuniões por causa do comportamento e da dificuldade que temos em falar com ele?
Sim sei qual é, é um miúdo que fica à porta.
Fica à porta?! Que queres dizer com isso?
Talvez ainda não tenham dado por isso porque não falam com ele, não é fácil, tive que andar à espreita para perceber como lhe chegar, mas os velhos são pacientes. Sabes, quando alguém que nos bate à porta, abrimos e muitas vezes dizemos "entre não fique à porta", é porque à porta não se está bem. Eu acho que ficar à porta é pior que ficar na rua, à porta vemos o aconchego e não entramos, na rua nem o vemos. Pois eu acho que o Bruno fica à porta da família, fica à porta do pai e a mãe que, com o irmão mais pequeno, com o trabalho e com a lida mal, têm tempo de perceber que o Bruno ali está, à porta. E acho que na escola ele também fica à porta, no seu canto, não falam com ele e não sabe se pode entrar e como entrar. Se reparares ele está atento e quando se agita é para, mais uma vez, tocar à campainha. Eu acho que ele, felizmente, ainda sente que um dia vai entrar. Mas ias a dizer o quê do Bruno?
Nada Velho, o chá ficou frio, tenho que me ir embora. Tenho que ir abrir a porta ao Bruno.

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