domingo, 30 de julho de 2017

VIOLÊNCIA SOBRE PROFESSORES

O episódio absolutamente inaceitável das múltiplas agressões a um professor numa escola em Braga divulgado na imprensa, (recuso-me a colocar o link para tal violência), é mais um episódio dramaticamente elucidativo das incidências em contexto escolar que sustentam o enorme mal-estar, stresse e risco de burnout que afecta um número muito preocupante e significativo de  docentes, cerca de 30% de acordo com um estudo de 2015 realizado pelo ISPA – Instituto Universitário. Uma das principais causas apontadas para o mal-estar prende-se justamente com o comportamento dos alunos, mas também turmas com elevado número de alunos, a pressão para o sucesso, insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das lideranças da escola.
Na verdade, situações como a que agora foi divulgada apesar da sua violência acaba por não surpreender a não ser quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre educação e sobre os professores.
É fácil avaliar a importância e consequências das situações de mal-estar envolvendo os docentes. Alguns dos discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena na imprensa, parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias em que se desenvolve.
É complicada a tarefa de professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
Os valores, padrões e estilos e vida das famílias alteraram-se significativamente fazendo derivar para a escola, para os professores, parte do papel que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo.
Importa ainda considerar o impacto de variáveis relativas à estabilidade e segurança profissional, bem como os modelos de carreira e progressão. Acrescem ainda questões como a liderança ou a autonomia das escolas variáveis também importantes na construção dos climas das instituições.
Também deve ser ponderada a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de desvalorização dos professores com impacto evidente nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais
Com muita frequência os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas
A forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem e isto contamina a serenidade do processo de trabalho. Aliás são demasiado frequentes os episódios de agressão e insultos a professores por parte de pais ou encarregados de educação.
Importa também considerar, creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a “pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade dos “pequenos”.
É também imprescindível que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito deveria merecer.
Os sistemas educativos com melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais valorizados, apoiados e reconhecidos.

1 comentário:

Fernando Pires disse...

A falta de atuação quer do diretor quer dos outros professores enquanto colegas, revela uma total aceitação da atitude dos alunos para com o docente.Isto pode acontecer a outros docentes por razões diversas passíveis de reacções deste tipo . homofóbicas, raciais, religiosas, políticas.
Perante aquele barulho e confusão que fizeram os colegas que estavam a dar aulas nas salas contíguas? Não deveriam ter chamado a polícia segura? Ou só chamariam se o colega fosse esfaqueado ou estrupado? Que vergonha!