O ME decidiu integrar o intervalo
da manhã nas aulas do 1º ciclo na componente lectiva dos docentes o que faz diminuir
a em meia hora diária o trabalho em sala de aula.
A medida obrigará também a um
ajustamento na organização funcional das escolas que, do meu ponto de vista e
considerando a autonomia que devem ter, deverão decidir a melhor solução
considerando variáveis como tipologia, dimensão, recursos humanos, etc.
Sobre esta decisão duas notas
breves.
Em primeiro lugar a diminuição do
tempo de trabalho em aula. Deve recordar-se que os alunos portugueses têm um
número de horas de aula anuais superior à média europeia e da OCDE considerando
quer a componente obrigatória, quer a componente não obrigatória, as AEC. Os
relatórios do CNE e os dados da OCDE, “Education at a Glance 2016", mostram
isso mesmo. Assim sendo, não me parece que esta redução tenha efeitos
negativos, como é sabido, mais trabalho nem sempre é melhor trabalho.
A segunda nota remete para
integração da pausa da manhã na componente lectiva dos docentes.
Não sei se isto significa que os
docentes assumam, de facto, a supervisão dessas pausas ou se trata de uma
medida de natureza administrativa que ”apenas” passa a considerar esse espaço
de tempo como componente lectiva. Conheço inúmeras situações de docentes do 1º
ciclo que acompanham os intervalos mesmo sem que isso lhes seja contabilizado
como componente lectiva como sei também que tal não acontece.
Também sabemos das enormes
dificuldades com que algumas escolas se debatem com a insuficiência do número
de auxiliares de educação, recuso a designação de assistentes operacionais e será mau que esta decisão seja uma forma enviesada de responder a este problema.
No entanto, mesmo com números
adequados e sem esquecer a sua importância que já aqui defendi e em trabalho
com estes profissionais tenho tentado promover julgo que a contabilização do
tempo da pausa no seu trabalho e a sua presença nos espaços de recreio são
importantes sobretudo em idades posteriores.
A política dos anos mais recentes
de mudanças na rede escolar com os centros educativos e os mega-agrupamentos
tem como consequência em muitas comunidades um elevado número de alunos que exige
supervisão adequada e competente e faz correr o risco de comportamentos desajustados
entre os alunos.
É reconhecido que os problemas
mais significativos sentidos nas escolas, indisciplina, violência,
delinquência, bullying, etc. ocorrem em grande parte nos recreios pelo que,
afirmo-o muito frequentemente, me parece fundamental que se dê atenção
educativa aos tempos e espaços de recreio escolar.
Talvez não seja muito popular mas
digo de há muito que os recreios escolares são dos mais importantes espaços
educativos, aliás, muitas das nossas memórias da escola, boas e más, passam
pelos recreios. Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos, para
além da colaboração dos funcionários, deveria contar com a participação activa
dos docentes.
Acresce que a formação de muitos
dos auxiliares, independentemente da sua motivação e profissionalismo, em
matérias como supervisão educativa e mediação de conflitos, por exemplo, e/ou,
o entendimento que têm das suas competências, muitas vezes não valorizadas pela
própria comunidade educativa e geral, leva a alguma negligência ou receio de
intervenção.
A reestrutura da enorme carga
burocrática do trabalho dos professores, dos modelos de organização e
funcionamento das escolas, por exemplo, poderiam também libertar horas de
docentes para esta supervisão que me parece desejável e não só no 1º ciclo, antes pelo contrário. Esta visão não remete para um aumento do trabalho dos doscentes, têm que chegue, mas sim para mais qualidade em todo o trabalho educativo
A boa e atenta
“profs-vigilância” é mais eficaz que um invisível “big brother”, por exemplo a
vigilância electrónica, que alguns defendem, ou a presença regular inviável e
indesejável de elementos forças de segurança nos espaços escolares como já
tenho ouvido reclamar.
É hoje aceite a importância do
clima da escola como factor associado ao sucesso do trabalho de alunos e
professores e a minimização dos problemas ligados ao comportamento e à
indisciplina.
Sem comentários:
Enviar um comentário