Segundo o JN no último ano desta
sessão legislativa 7 deputados do PSD e 3 do PS não realizaram uma única
pergunta ou intervenção, três deles não o fazem desde que foram eleitos, em
Outubro de 2015. Notável mas nada estranho, anualmente é realizada esta
contabilidade que nunca fica a zero.
Estamos no início de férias, a
tragédia de Pedrógão e o episódio de Tancos vão sossegando, temos as
incidências do mercado de transferências no futebol e preparam-se as
autárquicas e habitual dança das cadeiras. Ainda assim, umas notas a propósito
da prestação dos deputados.
Recordo que em Dezembro de 1014 o
actual Presidente da República, na altura "entertainer" político também
conhecido por "o Professor Marcelo" divulgou uma carta de uma jovem,
estudante do secundário, que numa visita de estudo ao Parlamento observou
“Deputados o tempo todo a ver no Facebook raparigas avantajadas; outros assistirem
a vídeos de quedas, aqueles que se assistem no Facebook e no YouTube para
fazerem as pessoas rirem; uma vez três deles juntaram-se a rir para de qualquer
coisa no computador e um a ver-se a si próprio num vídeo qualquer”.
O Professor Marcelo chamou a
atenção para este péssimo exemplo dos eleitos da nação e recomendou atenção aos
deputados quando observarem "raparigas avantajadas" com visitantes
nas galerias. Haveria que ter cuidado. Assistiu-se a reacções de alguns dos
digníssimos deputados que, aliás, se compreendem pois não é coisa que se diga.
Este episódio é, do meu ponto de
vista, quase irrelevante, qualquer de nós que utilizamos as tecnologias nos
locais de trabalho visitamos páginas diversas, imprensa, por exemplo, sem que
daí advenham compromissos do profissionalismo ou produtividade.
No entanto, julgo que é no
interior do Parlamento que mais se ameaça a seriedade, a importância e a imagem
que um Parlamento deve preservar num regime democrático saudável e não tem a
ver com o uso agora revelado pela adolescente dos computadores nas sessões.
Assistir a algumas sessões e ao
nível dos debates produzidos é, com frequência, um espectáculo deprimente. Os
interesses dos cidadãos que os deputados representam são trocados pelos
interesses da partidocracia de que os deputados se alimentam.
O recurso frequente à famigerada
figura de "disciplina de voto" partidária é um ataque às consciências
e, mais uma vez, à essência do papel de um deputado, representar os seus
eleitores e não mostrar-se como um "yes man" que carrega no botão que
lhe mandam sem um sobressalto de consciência ou de sentido ético. Nessas
sessões torna-se claro que bastaria uma reunião da conferência de líderes para
conhecer os resultados das votações, um deputado por partido seria suficiente
para representar os resultados eleitorais. Aliás, a indecorosa narrativa das
sucessivas Comissões de Inquérito sobre as mais diversas matérias que,
invariavelmente, concluem pelos interesses de quem em cada momento governa, são
um outro bom exemplo do descrédito a que genericamente esta gente condena a
Assembleia da República.
O número de deputados no
Parlamento transforma uma parte deles, existem evidentemente excepções nos
diferentes grupos, num grupo quase anónimo que de vez em quando dá uma prova de
vida com uma intervenção encomendada pelo líder parlamentar ou procuram dar nas
vistas através da frequência, volume de decibéis e mau gosto dos apartes.
O caso dos deputados que ainda
“não abriram a boca”, seja por não terem nada a dizer ou porque ainda não foram
autorizados é apenas mais indicador.
Sim, todos sabemos que fora dos plenários todos os deputados, mas mesmo todos, realizam um árduo trabalho em defesa dos interesses dos seus eleitores.
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