Foi ontem publicado o Despacho
que homologa o “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória". Está
agora definido formalmente o princípio orientador de um quadro de mudanças que
se anunciam e esperam, ou não, no mundo da educação. Como se sabe, em educação funcionamos quase sempre em modo "cada cabeça, sua sentença", depende de entendimentos de natureza científica, da visão de sociedade e da educação ou ainda das agendas políticas que parecendo
ser o mesmo que o tópico anterior, em Portugal são coisas com alguma diferença.
Retomo algumas notas e pequenas
dúvidas.
Entrei para o universo da
educação há 57 anos, estávamos ainda no Séc. XX. Há 40 anos, ainda no Séc. XX
assumi com a maior motivação uma carreira no mundo da educação que tem passado
por instâncias diferenciadas e se mantém até hoje, já Séc. XXI.
Este caminho longo permite-me
dizer que quando lá para o Séc. XX se começou a falar de que os alunos deveriam
saber utilizar diferentes textos e linguagens pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam saber aceder a informação e saber
comunicar pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam aprender a relacionar-se, a interagir
e a cooperar pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam aprender a raciocinar e a resolver
problemas pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam desenvolver pensamento crítico e
pensamento criativo pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam ser autónomos e com formação pessoal
adequada pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam aprender a promover o seu bem-estar e
saúde pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam desenvolver sensibilidade estética e
artística pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam aceder ao saber técnico e domínio de
tecnologias pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os alunos deveriam ter consciência e domínio do corpo
pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que a escola deveria ser mais do que a simples transmissão
de conhecimentos pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que de se deveriam desenvolver projectos interdisciplinares
promovendo a articulação e integração de conteúdos de diferentes disciplinas
pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que se deveria promover a educação para a cidadania e a
formação cívica pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que os testes não deveriam constituir a única forma de
avaliação pareceu-me bem.
Quando lá para o Séc. XX se
começou a falar de que deveriam ser valorizadas as diferentes disciplinas e equilibradas
as suas cargas horárias pareceu-me bem.
Bom, o caminho tem sido o que
conhecemos e chegados ao Séc. XXI cá estamos com uma nova formulação destas
intenções. Mais uma vez … parece-me bem.
Tenho algumas pequenas dúvidas de
que deixo alguns exemplos.
Tudo isto será desenvolvido com
que calendário e metodologia de mudança?
Tudo isto será desenvolvido com
que estabilidade e perspectiva de consistência no tempo?
Tudo isto será desenvolvido com que
organização curricular, conteúdos e cargas horárias, por disciplina e globais?
Tudo isto será desenvolvido com
que quadro de autonomia?
Tudo isto será desenvolvido com
que dimensão das turmas e das escolas? Eu sei que nem todas são excessivamente
grandes mas algumas são.
Tudo isto será desenvolvido com
que ajustamento em práticas, capacidades e recursos no sentido de promover
diferenciação, a única forma de acomodar a diversidade dos alunos.
Tudo isto será desenvolvido com
que modelos e dispositivos de avaliação de alunos, professores e escolas?
Deixem lá ver, como diz o Velho
Marrafa lá no Alentejo.
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