Lamentavelmente não consegui
aceder ao conteúdo, apenas li o título na 1ª página do JN. “Educação Especial. Governo quer acabar com turmas reduzidas”.
Confesso alguma inquietação a
justificar umas notas começando por uma pequena introdução.
No que que respeita à situação de
alunos com necessidades educativas especiais, as turmas continuam a ter um
efectivo de 20 alunos e não mais de dois com NEE. No entanto, a redução do
efectivo de turma só pode ser realizada dependendo do acompanhamento dos alunos
e da permanência destes em pelo menos 60% do tempo curricular.
Agora, parece indiciar-se a não
redução em qualquer circunstância (não li a notícia e estou a interpretar o título). Vejamos.
Numa perspectiva de educação
inclusiva os alunos com NEE que frequentam as escolas devem integrar uma turma.
Nenhuma dúvida sobre isto.
O DL 3/2008, ainda em vigor, permite,
em nome da inclusão, várias respostas e procedimentos que, para além da
complexidade e burocracia, alimentam respostas educativas pouco inclusivas em
que os alunos com NEE são guetizados em espaços físicos ou curriculares quando
não “orientados” para respostas institucionalizadas. A proposta em discussão pública contém algumas indicações num sentido mais positivo em termos de enunciado.
Eu sei que existem muito boas
práticas em muitas escolas mas a falta de regulação do sistema permite tudo, já
aqui referi várias situações.
As actividades em que se envolvem
e o respectivo contexto decorrem do seu Programa Educativo que se exige assente
em competente e compreensiva avaliação e planeamento adequado e intervenção
regulada o que, muitas vezes, não acontece. Também nesta matéria já partilhei
algumas situações elucidativas e verdadeiramente preocupantes.
Mais uma vez a afirmação de que a
inclusão assenta em quatro dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos),
Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras
pessoas), Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades
comuns) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade).
Estas dimensões devem ser operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação
justamente para que acomodem a diversidade das pessoas. Esta operacionalização exige condições e recursos que a possibilitem, tem custos. No entanto, os custos da exclusão são sempre mais elevados que os custos da inclusão.
À luz deste entendimento é justo
afirmar que temos excelentes exemplos de trabalho em comunidades educativas
que, tanto quanto possível e com os recursos de que dispõem, se empenham em
estruturar até ao limite ambientes educativos mais inclusivos em que todos,
mesmo todos, participem.
Nesta perspectiva torna-se necessário garantir as condições e recursos que respondam efectivamente às
necessidades dos alunos e apoiem os docentes do ensino regular os titulares das
turmas e, portanto, actores cruciais nos processos de inclusão.
É verdade que o artº 19º da proposta em discussão pública coloca nas escolas alguma autonomia face à constituição das turmas desde que "não aumentem o número de grupos/turma", se isso acontecer carece de autorização da tutela mas continua presente a questão dos recursos disponíveis sobretudo em escolas de maior densidade demográfica. Existe alguma distância entre um enunciado aceitável e o funcionamento sem recursos adequados e sem regulação de práticas e culturas.
É verdade que o artº 19º da proposta em discussão pública coloca nas escolas alguma autonomia face à constituição das turmas desde que "não aumentem o número de grupos/turma", se isso acontecer carece de autorização da tutela mas continua presente a questão dos recursos disponíveis sobretudo em escolas de maior densidade demográfica. Existe alguma distância entre um enunciado aceitável e o funcionamento sem recursos adequados e sem regulação de práticas e culturas.
Não me orgulho muito e talvez
seja injusto, a ver vamos e espero estar enganado, mas recordei uma entrevista
de Nuno Crato que quando questionado sobre o não cumprimento do definido
legalmente no que respeita ao número de alunos por turma e ao número de alunos
com NEE que delas fazem parte, afirmou que se tratava de uma “questão
administrativa” pois como eles estão pouco tempo com os colegas é como se não
pertencessem à turma.
Como muitas vezes afirmo e esta ideia poderá permitir, existem muitos alunos que não estão ou não se sentem
a fazer parte da comunidade educativa em que estão, não estão “integrados” mas
“entregados”, por várias razões e nem sempre por dificuldades próprias.
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