domingo, 9 de julho de 2017

OUTRA HISTÓRIA DA INCLUSÃO

Como já aqui referi está em discussão pública uma proposta legislativa, “Regime Legal da Inclusão Escolar”, que substituirá o DL 3/2008. Estou a tentar alinhavar umas notas sobre o texto compatíveis com este espaço no sentido de contribuir para o debate.
Por agora um episódio que me parece ilustrativo do que tem de ser pensado, mesmo para além da legislação, em matéria de inclusão escolar.
Realizou-se nos passados dias 6, 7 e 8 um evento organizado pela Pró Inclusão Associação Nacional dos Docentes de Educação Especial, “Educação, Inclusão e Inovação”. Como tem sido habitual a PIN ANDEE teve a generosidade de me convidar o que me permitiu assistir a apresentações de elevado nível e discussões estimulantes.
Como não podia deixar de ser e como alguém disse, estava um “elefante naquela sala” que ninguém conseguiu esquecer, “a nova legislação que aí vem”.
Durante um dos intervalos caminhava atrás de duas participantes, pelo diálogo docentes de educação especial, que comentavam entusiasmadas uma figura prevista na proposta, “A Equipa Técnica Multidisciplinar” d cada escola que como elementos permanentes terá um representante da direcção da escola, o coordenador do 1º ciclo, os coordenadores de ciclo ou coordenador dos directores de turma, um docente de educação especial e um técnico especializado (psicólogo). A equipa terá como elementos variáveis o docente titular do grupo/turma ou o director de turma, devendo ainda integrar a equipa, como elementos variáveis, outros docentes do aluno, bem como os técnicos do centro de recurso para a inclusão se for caso disso.
Do meu ponto de vista esta constituição é susceptível de discussão pelo que não estranhava a reflexão, antes pelo contrário.
O que me deixou mais interessado foi a questão colocada, quem deve integrar a Equipa Multidisciplinar, diziam ambas muito convictamente, são os docentes de educação especial, não os outros docentes e só um de educação especial. A justificação que ainda ouvi deixou-me a pensar … até agora.
Quem conhece os alunos somos nós, os professores do regular e o DT não sabem nada dos alunos”.
Confesso a minha perplexidade, ou isto não é verdade, e não é em muito casos que conheço, ou é verdade e vai ao encontro da minha enorme inquietação sobre estas questões, o que se passa nas escolas em nome da inclusão.
Vindo de duas docentes de educação especial, fiquei a pensar no trabalho que desenvolvem, imagino-as numa sala, às vezes chamam-lhes “unidades”, a trabalhar “estruturadamente” com os “seus” meninos” que só elas é que conhecem e de quem sabem tudo pois são altamente especializadas. Esses meninos contactam pouco com os seus colegas de escola nas salas nem participam em actividades comuns pois os respectivos professores (da turma)  ou DT deles sabem nada e muito menos o que fazer com eles.
E agora que isto estava tão bem, querem mexer e já não decidimos só nós, os sábios e os peritos em inclusão, como trabalhar com as “nossas crianças”, os NEEs como carinhosamente são tratados por vezes.
Tudo isto em nome … da Inclusão.
Desculpem o tom mas fiquei mesmo incomodado e a tomar balanço para escrever estas notas.
Também entendo que a nova proposta tem muitos conteúdos para discutir, lá iremos, mas … não era isto que gostava de ouvir, ali, naquele contexto, “Educação, Inclusão e Inovação”.
Com ou sem mudanças na legislação e são urgentes, percebe-se o tanto que está por fazer na forma como tudo isto é percebido até por muitos que estão convertidos e são “especializados” em Inclusão. Alguns, desculpem mas estou zangado, são parte do problema, não são parte da solução.

4 comentários:

Unknown disse...

Meu querido amigo;. não fiques zangado. Tu nem és desse tipo... Tu és dos que ouve o que foi dito e partes daí para a frente. É isso que temos de fazer; como tu fazes. Os professores de EE não são anjos nem demónios, eu diria até que não são nem melhores nem piores do que as escolas e o sistema educativo português. Lá, encontramos lama e diamantes e a maioria são rochas metamórficas que devagar - bem devagar - se vão transformando na casa para todos que queremos fazer.
Como de costume, foste imprescindível e pertinente no nosso Congresso. bem hajas!
David Rodrigues

Zé Morgado disse...

Olá David, eu sei, na verdade o nosso sistema educativo é inclusivo, acomoda o melhor e o pior sem grandes sobressaltos. Usei a expressão zangado mas, em bom rigor, é mais inquieto com o tanto que ainda está por fazer. Um abraço e obrigado pelo convite para o encontro.

sandroca disse...

Infelizmente professor assim é, devo dizer-lhe que tenho um filho com Paralisia Cerebral que este ano letivo que acabou frequentou pela 1ª vez uma unidade (passou para o segundo ciclo e como não havia alternativas ao CEI, no segundo ciclo passou para uma unidade) devo dizer-lhe que não existe articulação entre o professor de EE e o professor da turma regular. As unidades servem para gerenciar recursos, ou seja existe um professor para vários alunos, assim como não tem apoio individual, (quando tinha apoio individual, no 1º ciclo, era retirado da turma, ia sozinho com o professor de EE para uma sala à parte...) na unidade é muito fixe,( não sei para quem) têm um currículo funcional, aprendem a fazer bolinhos todos juntos, geleia de uvas, doce de abóbora, que é muito útil para futuramente o seu dia a dia, mas apesar disso cada aluno tem um programa educativo individual, não façamos confusão...Inicialmente só o colocaram a assistir à aula de Cidadania com a turma, passava o resto do tempo na unidade, por insistência minha, lá começou a frequentar as aulas de ginástica e Inglês, Português nem pensar porque já estava muito atrasado relativamente à turma, o que me leva a pensar que as unidades são promotores de atividades que promovem as aprendizagens tendo em conta as especificidades de cada um (num todo) ...o meu filho consegue perceber tudo o que o rodeia, mas tem 95% de incapacidade física, o quem me leva a inferir que a turma regular é muito mais importante para ele, porque vai aprendendo ao ritmo dele e socializando com os colegas com quem ele sempre esteve habituado no primeiro ciclo...como é que se pode pensar em evolução, aprendizagem ou o que quer que seja quando as unidades se destinam a alunos todos eles com diversidade funcional, sendo que a maioria não apresenta oralidade, nem os vi nunca a comunicar doutra forma, porque existem outras formas de comunicação para quem não produz fala...JÁ agora um outro aspeto importante o computador que funciona através do olhar e que já o acompanha à cerca de três anos, e que nas avaliações consta que teve um treino sistemático, foi utilizado umas 7 vezes...isto dito por quem percebe do assunto...relativamente às aulas que o meu filho frequentava com a turma regular, adorou a ginástica, às vezes chorava muito em Cidadania, tinham que o trazer cá para fora...há esqueci-me de dizer que as aulas de cidadania eram maioritariamente para a professora justificar as faltas dos alunos e nas aulas de Inglês que frequentava foi-me dito que ele não estava lá a fazer nada porque a professora não interagia com ele...pois não, não fazia nada no inglês....fez-me lembrar no 1º ciclo nas AEC´s em que ele passava o tempo todo na cadeira em frente aos colegas a vê-los, sem que o professor lhe passasse cartolina, podia levantar os braços ou as pernas, mas não fazia nada mesmo nada (claro que o tirei das AEC´s) Só me resta dizer que estou a tentar transferi-lo para outra escola, espero que existam vagas, porque sinto que as unidades são para redução de custos e recursos e para além do mais são salas de segregação....secalhar estou a ser muito exigente, mas até me explicarem as coisas de outra forma e que eu concorde, vou continuar a fazer o que acho melhor para o meu filho..

Zé Morgado disse...

Olá Sandra, só mostra o quanto está por fazer. Força