Estando aqui de volta da
preparação de um encontro de amanhã com a estimulante companhia dos Professores
Marçal Grilo e David Justino sobre a não menos desafiante questão da "In Disciplina (na Escola) Hoje", na
Escola Secundária Fernando Namora, lembrei-me da história dos Retratos do Reguila
que já aqui contei, Aqui fica de novo.
Era uma vez um miúdo chamado Reguila,
tinha uns onze anos. Na escola, nunca fazia nada sem primeiro pedir que lhe
explicassem porquê. Nas aulas, quando os professores explicavam matéria que não
conhecia, interrogava-os sobre para que servia o que estava a aprender. Gostava
de falar, nem sempre respeitava a sua vez ou o silêncio, quando pedido. Também
discutia as regras de funcionamento e nem sempre era fácil convencê-lo de
algumas. Quando convencido, apesar de alguns lapsos, cumpri-as. Na escola
muitos professores falavam do Reguila. Vejamos algumas opiniões.
Um professor chamado Romântico
dizia, “É um miúdo tão engraçado e ingénuo. Tem uma vontade muito firme e não
abdica dela, é muito autónomo”.
Um professor chamado Conservador
dizia, “É um indisciplinado, tem uma família terrível que não lhe ensina nada e
ele não se interessa por nada. Só espero que saia da escola, só cá deve andar
quem se interessa e se porta bem”.
Um professor chamado Interessado
dizia, “É diferente, como todos os outros, às vezes faz-me perder um bocado a
paciência, mas normalmente dou-lhe a volta e entendemo-nos”.
Um professor chamado Indiferente
dizia, “Ele que faça o que quer, desde que não me perturbe a aula. A vida é
dele, nem todos podem ir longe”.
Um professor chamado Dapoio dizia
"O Reguila não é elegível".
Um professor chamado Inexperiente
dizia, “Nunca vi um miúdo como o Reguila, sempre a falar e com as ideias dele,
tão teimoso”.
Um professor chamado Velho dizia,
“É um miúdo que ainda anda à procura de si e vai esbarrando nos outros, é
preciso ajudá-lo a encontrar-se”.
Estavam todos a falar do mesmo
miúdo, o Reguila.
E o Reguila? Que retrato faria de
si?
PS – A organização pediu-me uma
frase para o tema. Enviei esta: “Em
matéria de (in)disciplina escolar, tal como noutras dimensões dos processos
educativos, para promover boas respostas, importa promover boas perguntas. Por
outro lado, os bons professores não são os que gerem bem os episódios de
indisciplina, são os que têm menos episódios de indisciplina para gerir.”
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