De acordo com o calendário das
consciências passa hoje o Dia Mundial dos Avós.
A avozice é um mundo mágico no
qual entrei há algum tempo com a abençoada chegada do Simão há quatro anos e do
Tomás há pouco mais de um e acho que ainda não consegui acomodar os sentimentos
e a magia de acompanhar de perto, tão de perto quanto possível, o crescimento
destes gaiatos que têm uma geração pelo meio.
Tem sido um divertimento, uma
descoberta permanente e a percepção de um outro sentido para uma vida que já
vai comprida e também, desculpem a confissão, cumprida.
Neste entendimento e como tem
acontecido aqui no Atenta Inquietude a cada 26 de Julho, retomo a minha
proposta no sentido de ser legislado o direito aos avós. Isto quer dizer,
simplesmente, que todos os miúdos deveriam, obrigatoriamente, ter avós e que
todos os velhos deveriam ter netos.
Num tempo em que milhares de
miúdos passam muito tempo sós, mesmo quando, por estranho que pareça, têm
pessoas à beira, e muitos velhos vão morrendo devagar de sozinhismo, a doença
que ataca os que vivem sós, isolados, qualquer partido verdadeiramente
interessado nas pessoas, sentir-se ia obrigado a inscrever tal medida no seu
programa ou, porque não, inscrevê-la nos direitos fundamentais.
Com tantas crianças abandonadas
dentro de casa, institucionalizadas, mergulhadas na escola tempos infindos ou
escondidas em ecrãs, ao mesmo tempo que os velhos estão emprateleirados em
lares ou também abandonados em casa, isolados de tal forma que morrem sem que
ninguém se dê conta, trata-se apenas de os juntar, seria um dois em um. Creio
que os benefícios para miúdos e velhos seriam extraordinários.
Um avô ou uma avó, de preferência
os dois, são bens de primeira necessidade para qualquer miúdo.
Já agora deixo uma história com
avô dentro. Como sabem contar histórias é mesmo coisa de avós e às vezes
repetem-nas, é o caso desta, já aqui a contei.
De há uns tempos para cá apareceu uma moda naquela terra que “impede”
as pessoas de falarem em brincar nas escolas da terra, é proibido brincar nas
escolas.
A moda foi fabricada por uma gente ignorante de miúdos, obcecada com
trabalho e produtividade, mesmo infantil, uns infelizes escravos convencidos de
que são livres e que também querem escravizar os outros.
Mas ainda existem uns professores, muitos, naquela terra que não se
deixam enganar, sabem ler os miúdos e percebem que eles aprendem porque também
brincam e brincam porque também aprendem. Aliás, brincar e aprender são as
coisas mais sérias que os miúdos fazem, sorte a deles, a de alguns, felizmente
muitos.
Um dia, um desses professores lembrou-se, que sacrilégio, de dizer aos
seus alunos para trazerem para a escola o seu brinquedo preferido. A Maria
trouxe uma boneca. O João apareceu com a playstation nova. A Sara vinha vaidosa
com umas bonecas que o pai tinha trazido do estrangeiro. A Irina trazia o
Noddy. O Carlos vinha com uns olhos quase tão grandes como a bola de futebol
que trazia debaixo do braço. O David, sempre pronto para as lutas, trazia uns
bonecos lutadores de wrestling. A Joana não ligava a ninguém com o seu mp3
cheio das músicas de que gosta. Enfim, por um dia, toda gente veio para a
escola com um brinquedo, o seu preferido.
O último a chegar foi o Manel.
Feliz e sorridente entrou na sala de aula com o avô pela mão.
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