Estava a olhar para múltiplas
referências que se encontram na imprensa ao caso de corrupção em torno dos
chamados vistos "gold" que
envolve figuras destacadas da Administração Interna e Justiça e recordava o
debate em que ontem tive o gosto de participar com Rui Tavares, o dirigente do Livre
e ex-eurodeputado, e o jornalista António Costa Santos no âmbito de um Colóquio
sobre Psicologia, Ética e Poder.
Na verdade, este caso, o dos vistos
"gold" é um bom exemplo da
enorme ambiguidade e latitude ética, por assim dizer, no exercício do poder,
dos poderes.
Em primeiro lugar, se bem
repararmos, ainda ontem era notícia, apesar do sucesso proclamado por Paulo
Portas do negócio dos vistos "gold",
seria interessante fazer as contas relativamente ao que perdemos com a partida
de muitos milhares de jovens altamente qualificados que depois de cá adquirirem
formação se sentem obrigados a partir em busca de um futuro que por cá não vislumbram. As
portas estão fechadas e recebem um visto dark de partida. São
muitos, demasiados, milhões de euros que se perdem, no investimento feito e nas
consequências económicas e sociais da partida, muitas vezes definitiva.
Eu sei que a economia é um
universo demasiado sofisticado para que um cidadão comum possa entender os seus
meandros, mas este não pode ser o caminho.
Por outro lado, como tem sido
repetidamente afirmado, defendido e comprovado, é para os interesses dos
investidores estrangeiros que devem orientar-se a nossa Constituição, a nossa
economia, os nossos recursos, as nossas empresas (as mais lucrativas,
evidentemente) e mesmo nós portugueses que deveremos ser submissos e
cooperantes com esses interesses. Por coincidência, o Secretário dos
Transportes, Sérgio Monteiro, afirmou, lê-se no DN, a propósito da compra da PT
que "O que interessa é o projeto para a PT, não a origem do dinheiro". Elucidativo.
Os investidores estrangeiros com
os seus interesses devidamente acautelados trarão, assim, os amanhãs que
cantam, a banda sonora da nossa pobreza. Acontece ainda que este investimento
estrangeiro, algum de origem duvidosa como tem sido noticiado, veio alimentar um
nicho de mercado altamente atractivo e rentável ente nós, a corrupção.
Finalmente, uma referência a uma
tragédia com episódios sucessivos e sem vista à vista, que se passa no Mediterrâneo
em morrem muitas centenas de pessoas vindas do outro lado para tentar a entrada
em Itália ou Espanha, e que arriscam a
vida para procurar um futuro que possa ser diferente do inferno de pobreza,
miséria e desesperança que vivem.
Por cá, mas não só, oferecem-se
uns vistos "gold" com acesso ao espaço europeu a uma
rapaziada que traga uns sacos de dinheiro não importa de onde nem como foi
arranjado.
O mundo é, na verdade, um lugar
estranho.
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