Desculpem a insistência mas a questão justifica. Num
inquérito a 2200 alunos de 30 escolas de 11 municípios portugueses realizado
pela EPIS – Associação de Empresários pela Inclusão Social, divulgado no Expresso, constata-se que apenas
54.5% dos inquiridos tem intenção de frequentar o ensino superior, o valor mais
baixo dos 3 anos em que decorreu o inquérito. Na mesma linha, aumenta o número
de alunos que pretende ficar pelo 12º, 39.5%, e dos que nem sequer pretendem
passar do 9ºano, 6%. Aos dados dos alunos acresce um abaixamento das
expectativas das famílias de que os seus filhos entrem no ensino superior.
Estes dados são preocupantes como várias vezes tenho aqui
referido pois esta tendência vem sendo registada.
Presumo, há também indicadores nesse sentido, que as
dificuldades económicas não serão alheias às intenções manifestadas. No
entanto, temo que o número relativamente baixo de alunos com a intenção de
adquirir formação de nível superior possa também estar ligado à perversa e
errada ideia do “país de doutores” que, muitas vezes com o auxílio de uma
imprensa preguiçosa e negligente, se foi instalando a propósito do número de
jovens licenciados no desemprego e da conclusão de que “não vale a pena
estudar”, um verdadeiro tiro no pé e que não corresponde de todo à verdade.
Em primeiro lugar, os jovens licenciados não estão no
desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado
pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão-de-obra qualificada
e muitos estão no desemprego porque, por desresponsabilização da tutela, a
oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada distorcendo o
equilíbrio entre a oferta e a procura.
Também não esqueço, recorrente o afirmo, que é urgente
aprofundar a estruturação de percursos formativos diferenciados, nem todos têm
que acabar no ensino superior, evidentemente, mas esta diferenciação na oferta
formativa e na duração dos percursos de educação e qualificação não pode
assentar na ideia de percurso de "primeira", para os mais dotados, e
de percursos de "segunda" para os outros. Mais grave ainda é o
abandono escolar sem qualificação.
É ainda importante recordar que, segundo o Relatório da
OCDE, "Education at a Glance 2012", já aqui citado, a diferença
salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível do
secundário, é de 69 %, um bom indicador para o impacto da qualificação. Aliás, Portugal é um dos países em que mais compensa adquirir formação e qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes
produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem
sustentação, sendo um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada
como a nossa.
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