Aqui no Alentejo instalou-se um fim de tarde cabaneiro,
chuva, vento e já algum frio que começa a lembrar a quentura da lareira.
Já tinha regressado do lagar, foi dia de entregar azeitona. Este
ano, a chuva e os calores de Setembro e Outubro ditaram uma produção bem abaixo
do habitual mas sempre resolvemos colher a pouca que havia nas árvores, dá-me
pena deixá-la e sempre se recebem uns “garrafanitos”
de azeite apesar de menos do que é costume.
Com menos azeitona, a lida no lagar da vila é mais rápida e
o tempo de espera é menor. No entanto, estamos no Alentejo, qualquer pedaço de
tempo e mais do que um alentejano presente é suficiente para as lérias.
A certa altura, sem estranheza nos tempos que atravessamos,
lá se ia falando das dificuldades e alguém referiu como daria jeito aquele “moitão” de dinheiro que saiu no
Euromilhões a um apostador de Castelo Branco.
Toda a gente desatou a “sonhar” com o “moitão” de dinheiro e para o que ele chegaria. No meio das falas
ouve-se a voz de um companheiro o Ricardo, moço ainda novo, que afirmou
convicto, “Com esse “moitão” de dinheiro
nunca mais dava os bons dias a ninguém”.
Ficámos surpreendidos, o Ricardo é moço simpático,
conversador, não era de esperar que lá por ser rico deixasse de dar a salvação
às pessoas. Perante a estranheza, o Ricardo esclareceu.
“Vocês pensam que eu
com esse “moitão” de dinheiro mais alguma vez me levantava antes do almoço? Só
me levantava a essa hora e depois já só dava as boas tardes ou boas noites”.
Está certo Ricardo, mesmo com dinheiro deve dar-se a
salvação, coisa que, aliás, vai caindo em desuso.
Entretanto chegou a minha vez de despejar a azeitona para
ser pesada. Foi ainda menos do que esperava.
Definitivamente, este ano não foi ano de azeitona, mas
lérias, aqui no Alentejo, temos sempre.
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