domingo, 9 de novembro de 2014

E OS OUTROS MUROS?

Boa parte do mundo assinala hoje a passagem de 25 anos sobre a queda do muro de Berlim, um evento que se inscreveu na história europeia e mundial.
Vai sendo tempo de forçar a queda de muitos outros muros que criam barreiras a vidas com direitos e dignidade.
Só porque, por coincidência, vou participar hoje aqui no Alentejo num encontro em que nos propomos reflectir sobre “A escola espaço de inclusão universal” uma referência ao enorme muro que em muitas circunstâncias transforma a vida de muitas crianças, jovens e adultos numa permanente corrida de obstáculos e vêem atropelados alguns dos seus direitos.
Esse muro é constituído por dimensões mais tangíveis, falta de recursos humanos e técnicos, barreiras físicas e acessibilidade, insuficiência de apoios de natureza social, etc.
No entanto, boa parte deste muro é constituído por dimensões de outra natureza, desvalorização dos problemas das minorias, o entendimento de que os direitos humanos são de geometria variável e dependentes da conjuntura, ou seja, se existir mais dinheiro, teremos mais direitos, os equívocos em torno da ideia de inclusão que muitas vezes não passa de “entregação”, crianças e jovens estão “entregadas” em escolas ou instituições com baixo nível de participação nas actividades da comunidade em que deveriam estar incluídos.
A participação é, sempre o afirmo, o principal critério de inclusão. Apesar de muitas experiências positivas que se desenvolvem diariamente, os níveis de participação de crianças e jovens nas actividades das suas comunidades é baixo.
Do meu ponto de vista, esta menor participação decorre do facto de muitos de nós não “acreditarmos” que eles são capazes de o fazer, Em nome das suas dificuldades estruturam-se ambientes que se entendem como mais protectores dessas dificuldades e as crianças e jovens estão “ao lado” e não por dento do mundo que, por princípio, deveria ser o seu.
Muitas vezes afirmo e insisto que o nível de desenvolvimento das comunidades também se afere pela forma como lidam com os problemas das minorias mais vulneráveis. Vai sendo tempo das comunidades, não apenas os próprios, as famílias ou os técnicos, assumirem que se torna urgente derrubar o que for possível, estou a ser realista, deste muro, destes muros.

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