Neste sábado, depois da lida no
Monte e como sempre eu e Mestre Zé Marrafa ficámos um tempinho nas lérias.
Comentávamos como este tempo
seguido de chuva não deixa trabalhar na terra.
O Mestre Zé contou que dado que
não tinha ido trabalhar foi visitar a família a Évora. O problema é que embora
goste da família uma tarde em Évora ...
é demais.
Como ele diz, “é bem verdade,
galinha do campo não quer capoeira”. Ele não se imagina a viver assim numa
terra grande, aqui na vila, vem ao monte, tem sempre alguma coisa que fazer,
sobretudo plantar alguma coisa na horta que é o que mais gosta. Achei muita
graça à descrição do Mestre Zé sobre o seu incómodo com a cidade grande, “sei
lá, o corpo não se encontra”, “parece que estou perdido”, “parece assim uma
prisão” e outras considerações que não fixei.
Conhecendo o Mestre Marrafa, dá
para entender este discurso. Os olhos pequeninos brilham quando fala do que vai
fazer, dos criadores, das enxertias, dos bogangos, dos frades, da necessidade
de fabricar a terra para o “çabolo” de que eu tenho que comprar a semente, dos
rábanos enormes que lá temos, e das “alfaças”, das couves que apesar de
dividirmos as folhas com as codornizes sabem bem mas bem, da desmoita dos
pés-de-burro das oliveiras e da sua limpeza que nos garante lenha para o
inverno, da quantidade de azeitona, dos enxertos, arte em que é mestre. da
minha falta de jeito para charruar sem deixar desviar o tractor, etc.
Às vezes, penso como sou um
privilegiado com um campo, o meu Monte, para ir quando saio da cidade grande.
Pena é que muitas pessoas, sobretudo miúdos, já não saibam o que é “o campo”,
e, por isso, não podem, por vezes não querem e outras vezes não sabem, sair da
capoeira.
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