Algumas notas breves dado o espaço.
"E o que acontece aos
alunos com dificuldades?
Não são prejudicados pelos
exames nacionais, porque o facto de as dificuldades virem ao de cima cria uma
necessidade óbvia de serem ajudados.
Mas o CNE alerta precisamente
para o facto de as escolas os chumbarem só para não baixarem a média da escola
nos exames e ficarem melhor nos rankings…
Não me quero pronunciar sobre esse aspecto específico que desconheço. Isso, a acontecer, seria um efeito perverso. Quero crer que não.
Não me quero pronunciar sobre esse aspecto específico que desconheço. Isso, a acontecer, seria um efeito perverso. Quero crer que não.
Mas é um alerta do CNE.
Os exames podem pôr a nu as
deficiências de certos alunos e escolas. Isso deve servir como meio de
diagnóstico, para atacar os problemas. Sem os exames, provavelmente esses
problemas passariam despercebidos, o aluno faria o seu trajecto, mas sem
aprender. A escola não desempenharia o seu papel."
Talvez fosse interessante que o Dr. Manuel Coutinho Pereira se
interrogasse como é que, por exemplo do 1º ciclo, os eventuais
"problemas de um aluno passam despercebidos" durante 4 anos e só o exame os revelará. Não,
Dr. especialista em economia da educação, as escolas cumprem o seu papel quando
dispõem de recursos e dispositivos que lhes permitam detectar precocemente as
dificuldades, intervêm continuamente no processo de ensino e aprendizagem e
não esperam pela medida do produto, o exame, para intervirem.
(...)
Num estudo de que é co-autor
refere que nos países escandinavos e na Itália menos de 5% dos alunos com 15
anos repetiram alguma vez no ensino básico, enquanto em Portugal, França,
Espanha e Luxemburgo os números estão acima dos 30%. Concorda com o CNE quando
este diz de que há uma cultura de retenção em Portugal?
A repetência é usada com
bastante frequência em Portugal. Até que ponto isso é positivo ou negativo, só
podemos responder se soubermos qual o efeito da repetência sobre o desempenho
escolar a curto, a médio e a longo prazo.
Foi o que investigou nesse
estudo…
O que concluímos foi que a
retenção no 1.º e 2.º ciclos tem efeitos negativos a longo prazo. A nossa
análise foi feita a partir dos resultados de estudantes que fizeram o PISA [um
estudo internacional da OCDE que compara as competências dos alunos de 15 anos
em diferentes áreas] e que foram retidos no 1.º e 2.º ciclos. Já nos estudantes
que frequentavam o 3.º ciclo encontrámos resultados positivos da retenção sobre
o seu desempenho escolar.
(...)
Também defende que alunos
“cujas características socioeconómicas os tornam mais propensos a repetir são,
regra geral, também os que mais ganham” com isso. Como é que isto se articula
com o que acabou de dizer?
Constatamos que o facto de se pertencer a um estrato socioeconómico
mais desfavorecido torna um pouco mais provável que o estudante seja retido. E
são esses também que tendem a ganhar mais com a retenção no 3.º ciclo e a
perder menos no 1.º e 2.º ciclo.
Alunos de contextos mais
desfavorecidos beneficiam mais com a retenção, independentemente do ciclo de
ensino?
O estrato socioeconómico de onde o estudante provém tem impacto sobre o
desempenho e a retenção desses estudantes pode colmatar deficiências que têm em
casa. Se o acompanhamento por parte dos pais e os recursos educativos em casa
forem um pouco inferiores, o efeito da repetência pode ser mais positivo do que
nos estudantes que não tenham essas carências. Ter repetido um ano dá-lhe
alguma hipótese de instrução adicional, de mais exposição à matéria. (...)"
O Sr. Dr. Especialista em
Economia da Educação conclui então que nos mais novos o chumbo faz mal e que
nos mais velhos o chumbo faz bem. Conclui ainda que aos pobres mais novos o
chumbo faz menos mal e que aos pobres mais velhos o chumbo faz ainda melhor
porque faltando o apoio e as condições lá em casa, repetir na escola ajuda a
compensar. No meio, o Sr. Dr. especialista em Economia da Educação teoriza sobre a "maturidade" ou "imaturidade" dos alunos variável que do seu ponto de vista torna o chumbo bom ou mau.
Bem visto, Não ocorre ao Sr. Dr.
especialista em Economia da Educação que, mais uma vez, a escola teria que
tentar fazer a diferença, ou seja, contrariar o "destino "
estatisticamente comprovado, e reconhecido pelo Sr. Dr. de que os mais pobres chumbam mais. Ora acontece
que para a escola fazer a diferença terá que possuir os recursos necessários para estruturar dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores. Lamentavelmente, a política educativa em curso vai no sentido contrário, corta
apoios e recursos, exclui os menos dotados, excluindo-os inclusivamente dos
exames para não atrapalhar estatísticas de sucesso e alimenta desigualdade e a
falta de equidade e igualdade de oportunidades.
Não Sr. Dr. especialista em
Economia da Educação, chumbar, só por chumbar, não produz qualidade na
educação. Aliás, dado interessante para um especialista em Economia da Educação, a retenção sem sucesso posterior tem um custo economico brutal.
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