domingo, 2 de novembro de 2014

EM QUE MEDIDA O ABAIXAMENTO DO DESEMPREGO SIGNIFICA O AUMENTO DO EMPREGO?

"Os novos auxiliares saem dos centros de emprego para os recreios das escolas"

O abaixamento da dramática taxa de desemprego seria sempre uma boa notícia. No entanto, importa ser cauteloso sobre o real quadro do desemprego e perceber se a descida corresponde efectivamente à criação de emprego. Algumas notas.
Em primeiro lugar é preciso considerar os muitos milhares de pessoas, jovens e desempregados de longa duração sobretudo, que já desistiram de procurar emprego e ainda ou já não contam para as estatísticas.
Por outro lado, recordo um trabalho de Julho do DN que mostrava que cerca de 90% dos empregos criados no âmbito do IEFP são subsidiados pelo estado sendo que a taxa de desemprego verificada na altura,  15.1% passaria a uns bem mais graves 18.2 % se fossem acrescentadas as pessoas em formação (estágios) ou envolvidas em programas como Contrato Emprego - Inserção e o programa Estímulo Emprego. Estavam em situações desta natureza cerca de 162 000 pessoas.
No Público de hoje surgem algumas histórias de vida elucidativas destes expedientes, designadamente o Contrato Emprego-Inserção. Muitas escolas e outros serviços da administração estão a funcionar com o recurso a mão-de-obra nesta situação, sem preparação, sem emprego e que no fim de cada ano é mandada embora para no ano seguinte voltar, uma vez que o seu trabalho é imprescindível. Esta gente não tem emprego, mas desaparece das estatísticas do desemprego, é “ocupada”.
Também não devemos esquecer que nos primeiros 3 meses de 2014 tinham saído do país 61 700 jovens com menos de 34 anos.
Está assim claro que a recuperação do emprego, tão referida pela máquina de propaganda assenta também numa habilidade que, muito provavelmente, a prazo se revelará ineficaz. É sabido que muitos empregadores, a administração incluída, usam e abusam de estagiários promovendo uma altíssima rotação. Como é evidente, o "esquema" serve às empresas e serviços, acedem a mão-de-obra qualificada e barata, é subsidiada, e quando se esgota o tempo haverá alguém que substitui quem sai. As pessoas entre o nada e a migalha hipotecam a dignidade em nome da sobrevivência.
A formação profissional para desempregados sempre foi uma área em que se verificam situações envoltas em "habilidades". Todos conhecemos pessoas no desemprego, em particular de longa duração, que são chamadas e "obrigadas" a fazer formação que chega a ser anedótica e um desperdício mas que lhes garante um subsídio e ao mesmo tempo torna as estatísticas mais simpáticas.
Não há muito a fazer, é a política ... estúpido. Habilidosa e manipuladora como muitas vezes é.


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