"Os novos auxiliares saem dos centros de emprego para os recreios das escolas"
O abaixamento da dramática taxa de desemprego seria sempre
uma boa notícia. No entanto, importa ser cauteloso sobre o real quadro do
desemprego e perceber se a descida corresponde efectivamente à criação de
emprego. Algumas notas.
Em primeiro lugar é preciso considerar os muitos milhares de
pessoas, jovens e desempregados de longa duração sobretudo, que já desistiram
de procurar emprego e ainda ou já não contam para as estatísticas.
Por outro lado, recordo um trabalho de Julho do DN que
mostrava que cerca de 90% dos empregos criados no âmbito do IEFP são
subsidiados pelo estado sendo que a taxa de desemprego verificada na altura,
15.1% passaria a uns bem mais graves 18.2 % se fossem acrescentadas as
pessoas em formação (estágios) ou envolvidas em programas como Contrato Emprego
- Inserção e o programa Estímulo Emprego. Estavam em situações desta natureza
cerca de 162 000 pessoas.
No Público de hoje surgem algumas histórias de vida
elucidativas destes expedientes, designadamente o Contrato Emprego-Inserção.
Muitas escolas e outros serviços da administração estão a funcionar com o
recurso a mão-de-obra nesta situação, sem preparação, sem emprego e que no
fim de cada ano é mandada embora para no ano seguinte voltar, uma vez que o seu
trabalho é imprescindível. Esta gente não tem emprego, mas desaparece das estatísticas
do desemprego, é “ocupada”.
Também não devemos esquecer que nos primeiros 3 meses de
2014 tinham saído do país 61 700 jovens com menos de 34 anos.
Está assim claro que a recuperação do emprego, tão referida
pela máquina de propaganda assenta também numa habilidade que, muito
provavelmente, a prazo se revelará ineficaz. É sabido que muitos empregadores,
a administração incluída, usam e abusam de estagiários promovendo uma altíssima
rotação. Como é evidente, o "esquema" serve às empresas e serviços, acedem
a mão-de-obra qualificada e barata, é subsidiada, e quando se esgota o tempo
haverá alguém que substitui quem sai. As pessoas entre o nada e a migalha
hipotecam a dignidade em nome da sobrevivência.
A formação profissional para desempregados sempre foi uma
área em que se verificam situações envoltas em "habilidades". Todos
conhecemos pessoas no desemprego, em particular de longa duração, que são
chamadas e "obrigadas" a fazer formação que chega a ser anedótica e
um desperdício mas que lhes garante um subsídio e ao mesmo tempo torna as
estatísticas mais simpáticas.
Não há muito a fazer, é a política ... estúpido. Habilidosa
e manipuladora como muitas vezes é.
Sem comentários:
Enviar um comentário