Há algum tempo convidaram-me para
colaborar numa iniciativa no âmbito da educação e do universo dos
miúdos que tinha com título genérico "Fugir para a escola". Achei
muito curioso e hoje, sem perceber muito bem porquê, este enunciado emergiu da
trama da memória e sugeriu umas notas.
Seria muito interessante, mas não
passa, provavelmente, de um romantismo não compatível com a dureza crispada,
agressiva e feia, dos tempos e da vida actual, imaginar que os miúdos quisessem
fugir para a escola, não porque fugissem de algo mau, o contexto familiar, por
exemplo, e que em bom rigor e lamentavelmente é por vezes tão mau que obriga a
fugir, mas porque os miúdos quisessem correr para a escola por nela se sentirem
bem.
É verdade que para a maioria dos
miúdos a estadia na escola é positiva, no aprender, no ser e no gostar. No
entanto, para alguns outros a escola é um lugar de onde apetece fugir e muitos
destes acabam por fugir da escola ou sentirem-se empurrados para fora.
As escolas vão construindo muros
cada vez mais altos e mais fortes. Nunca sei muito bem qual a verdadeira função
dos muros da escola, impedir que os miúdos saiam ou impedir que os miúdos
entrem. Acho que os muros da escola conseguem as duas coisas o que parece
estranho.
Por outro lado, nos tempos que
correm também muitos professores, bons professores, mostram por cansaço ou
desesperança que já não fogem para a escola, um lugar de realização, de
trabalho duro mas com uma das maiores compensações que se pode ter,
ajudar gente pequena a ser gente grande.
O clima institucional, a
burocracia, a deriva política vão levando a que a escola não apeteça, foge-se
ou é-se empurrado para fora, apesar dos muros altos. Felizmente, muitos outros
professores ainda conseguem fugir para escola, os alunos desses professores são
miúdos com sorte.
Será que ficou mesmo impossível
acreditar que os miúdos e os professores, de uma forma geral, queiram fugir
para escola?
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