"Nunca as escolas públicas tinham estado tão longe do topo dos rankings"
"12º ano. Há uma surpresa entre as escolas públicas"
O Outono, entre outras coisas bem
mais interessantes, traz-nos a sazonal divulgação das classificações das
escolas mais conhecida por "os rankings”. O Ministério divulga os
resultados e dados relativos às escolas, não todos, alguma imprensa trata esses
dados e produzem-se umas classificações “criteriosas”, com “indicadores
ponderados”, utilizando “diferentes critérios”, etc., etc.
Curiosamente, os vários tratamentos
(rankings) divulgados concluem invariavelmente pela “supremacia das escolas
privadas face às públicas”, que as escolas do litoral apresentam genericamente
melhores indicadores que as do interior, como seria de esperar num país
assimétrico e litoralizado, sendo ainda que os pólos de Lisboa, Coimbra, Porto
e Braga acolhem as escolas que genericamente melhores resultados evidenciam,
que as escolas das regiões autónomas mostram globalmente piores indicadores,
etc.
E assim foi este ano. Aliás, veja-se também o trabalho do Público, acentuou-se a supremacia das escolas privadas, apenas 16 escolas públicas estão
entre as 50 com médias mais altas, em 2013 eram 20. É de registar que a escola
pública melhor colocada, no trabalho do Expresso, é das Caldas da Rainha. Também se regista uma subida nas
médias a que não será alheio como na altura foi muito referido a maior
facilidade de alguns exames. Com o
modelo de avaliação externa e a cultura que temos existirá sempre a tentação de
usar os exames como "arma" política.
Parece-me claro que, para quem
conhece minimamente o país, em particular o país educativo, estes dados são
obviamente previsíveis, os territórios educativos são bem contrastados. Embora entenda que os dados relativos aos resultados
dos alunos possam e devam ser tratados, estudados e divulgados, a minha questão
é “QUAL O CONTRIBUTO SIGNIFICATIVO QUE A ORGANIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO DESTES
“RANKINGS” OFERECE PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DO SISTEMA?”. No meu
entendimento a resposta é: “pouco relevante”, porque é possível antecipar os
seus resultados sem grande margem de erro e porque não se traduzem em medidas
de política educativa. E tanto mais relevante o será quanto menor é a qualidade
de vida social, económica e cultural das populações, comprometendo de forma
inaceitável princípios de equidade.
Aliás, consultando o trabalho do Expresso,
é interessante verificar que na escola pública melhor colocada, a Raul Proença,
nas Caldas da Rainha, a média das habilitações das mães, um factor comprovado
como preditor do sucesso escolar dos filhos, é de 12 anos e tem 8,6% dos seus
alunos oriundos de famílias carenciadas apoiados no 1º escalão da acção social
escolar. Na mesma linha, na Secundária de Resende que apresenta a média mais
baixa, 7,3 valores, as mães dos alunos têm, em média, apenas o ensino primário
completo, 5,1 anos de estudo, e tem no escalão mais carenciado 30% dos alunos.
Sendo certo que a escola e o trabalho da escola podem fazer a diferença, existem experiências notáveis por vezes desenvolvidas em circunstãncias particularmente adversas, globalmente, a tradição ainda é o que era. Curiosamente, os créditos horários com que o MEC "premeia" as esolas acabam por privilegiar as escolas com melhores resultados alimentando a situação de discriminação pois parece razoável admitir que as escolas com mais dificuldades precisariam de mais dispositivos de resposta
Na verdade, a construção dos rankings inscreve-se numa
visão de teor liberal que alimenta a obsessão pela excelência que, sendo de
promover, não pode transformar-se numa cruzada “neo-darwinista” que produz
exclusão.
É reconhecido que existem
escolas, privadas e públicas que recusam matrículas para proteger a sua posição
no ranking, como também se sabe que uma excessiva centração nos exames pode não
ser o maior contributo para o sucesso. É também conhecido que em muitas escolas
os alunos que podem comprometer os resultados não são levados a exame. As
políticas educativas em vigor, o desviar os alunos "maus" e "preguiçosos"
para vias "vocacionais" ou "profissionais", por exemplo,
vão também contribuir para alterar as médias das escolas nos exames finais.
Sempre em nome da excelência.
Sendo um defensor intransigente
de uma cultura e prática de exigência, avaliação e qualidade, parece-me bem
mais importante o aprofundamento dos mecanismos de autonomia e
responsabilização e a constituição obrigatória em todos os agrupamentos ou
escolas de Observatórios de Qualidade que integrem também elementos exteriores
à escola. Existem capacidade técnica e recursos suficientes.
O trabalho realizado por esses Observatórios, este sim, deveria ser divulgado e discutido em cada comunidade e passível de leituras cruzadas com os resultados nacionais.
O trabalho realizado por esses Observatórios, este sim, deveria ser divulgado e discutido em cada comunidade e passível de leituras cruzadas com os resultados nacionais.
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