Um dos meus amigos é um tipo bem
peculiar. Há muito que lhe chamamos o Procurante. Perguntarão o porquê de tão
insólito chamamento. Deve-se ao facto do meu amigo fazer da sua vida uma
procura.
É o tipo mais inquieto que
conheço e a sua permanente procura deve-se a esse desassossego.
O Procurante anda atrás daquele
livro que ainda não leu e que será o mais interessante, antes de procurar o
próximo ainda mais interessante.
O Procurante busca o filme que,
de tão estimulante, o deixe à procura de outro que justifique ainda mais a sua
atenção.
O meu amigo Procurante trabalha e
creio que emprego é a única coisa que deixou de procurar, escreve, sobrevive da
escrita e de algumas traduções mal pagas. Ainda assim, embora não procure outro
emprego o Procurante continua a tentar escrever o livro que venha a ser O seu Livro.
O Procurante ainda não encontrou
numa só mulher tudo o que procura nas mulheres e, por isso, continua à procura.
Em múltiplas viagens e mudanças,
o Procurante tem tentado encontrar o seu mundo em muitos cantos, mas ainda
procura o seu canto no mundo.
Quando nos encontramos para uns
copos e umas discussões acesas, a palavra que o Procurante mais usa é “porquê”.
Ri-se sempre que um de nós propõe uma qualquer resposta para um dos seus
porquês e, sem percebermos se ri de nós ou para nós, pergunta porquê, sem fim.
Quando penso no Procurante fico
na dúvida. Será o Procurante o mais infeliz de nós porque nunca encontra ou,
pelo contrário, o mais feliz porque ainda procura, sempre.
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