Na partidocracia em que vivemos
existem uns actos litúrgicos, os congressos partidários, que estranhamente, ou
não, merecem uma cobertura mediática que, do meu ponto de vista, não se
justificaria na partidocracia em que nos atolámos, embora também saiba que
vivemos numa era de mediatização.
Este fim de semana está a
decorrer o Congresso do PS e a imprensa está cheia de referências
ao que por lá vai acontecendo. Este Congresso está, evidentemente, marcado pela
situação de José Sócrates. No entanto, quer António Costa, quer José Sócrates desejam que esta situação seja separada da vida do PS, coisa impossível dado que
ainda não é conhecido o impacto que esta caso pode vir a ter no PS e no
cenário político português.
De resto, voltando então ao Congresso,
como é habitual, do que por lá vai acontecendo, tal como nos Congressos dos
outros partidos, pouca coisa se torna verdadeiramente importante para o
chamado país real até porque boa parte do que lá é dito é quase
que exclusivamente para consumo interno ou repete a retórica diária presente
nos discursos, já gastos, por demais conhecidos, e pouco estimulantes para a
maioria dos cidadãos.
Na verdade, os Congressos partidários
destinam-se, fundamentalmente, a definir ou redefinir e reforçar lideranças que
previamente estão estruturadas, a realinhar e reforçar os apoios e a
organização do aparelho, ou seja, a gestão das fidelidades e dos jogos de poder
e de influência.
Os Congressos partidários servem
também para dar "tempo de antena" a alguns "barões" do
partido, os que estão na mó de cima, que mostram a sua influência e peso, a antiguidade
é um posto como diz o povo. A alguns "barões" na mó de baixo
enviam-se alguns recados e, naturalmente surgem os imprescindíveis apelos à
unidade em torno do projecto, da estratégia, isto é, do líder em funções.
Quando mudar logo se vê e repete-se a liturgia.
Os Congressos partidários cumprem
ainda uma outra função, disponibilizar uns minutos de palco, de fama, aos
congressistas anónimos vindos do aparelho partidário mais afastado do poder
central mas mais próximo do poder local, do país profundo, e que, quase sempre,
fora da cobertura mediática, produzem inflamadas intervenções cheias de amor
partidário que os poucos presentes, estas intervenções são habitualmente
agendadas para horas "mortas", têm a generosidade de aplaudir.
Quando acabar o Congresso do PS
voltamos aos problemas das pessoas, o mundo não parou, é verdade que insistem
que o país está melhor embora as pessoas não o estejam, e aguardamos o
Congresso do próximo partido para repetir a liturgia.
E assim se cumpre Portugal.