Gostei de ler o texto da Bárbara Wong no Público ""A culpa do "dá-lhe mais, dá-lhe mais" é dos pais?"
(...)
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Vai ao encontro do que muitas
vezes afirmo quando assistimos a casos de violência
extrema envolvendo jovens, apesar de terem, felizmente, efeitos menos trágicos,
levando-nos a questionar os nossos valores, códigos e leis pela perplexidade
que nos causam. É um problema de toda a comunidade, não "apenas" da escola ou da família.
Esta perplexidade exige a
necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação
do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e
adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente
despercebidas mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior
insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que
pode ser, antes de algo ainda mais grave, uma investida contra alguém numa
espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma
a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que a punição e a
detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que
só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e
programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que
custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada
e da insegurança.
Importa ainda estratégias mais
proactivas e eficientes de minimizar a guetização e "quase total"
desocupação de, em Portugal, centenas de milhares de elementos da geração
"nem, nem" nem estuda, nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa
por onde, por quem e porquê?
Finalmente, a importância de uma
precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar,
tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho
que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
2 comentários:
O acompanhamento das nossas crianças e jovens carece de uma ação concertada de vários intervenientes desde professores a médicos, passando por educadores sociais e psicólogos que visam suprir a carência de um referência parental securizante que muitas delas não têm. É fundamental que a intervenção destes profissionais seja feita de forma harmoniosa, entendendo-se como complementar e não como divergente. Contudo, permita-me o desabafo, a bondade, tolerância e compreensão dos profissionais que trabalham com estas crianças/jovens (destaco os professores) e daqueles que as rodeiam (todos e cada cidadão), atinge o limite quando o bem estar físico e emocional de outrem é posto em causa. Urge a prevenção, certamente, mas quando esta não se concretiza, que alternativa além da punição destes jovens adolescentes e daqueles que são responsáveis por eles?
Não está em causa a questão da punição, não podemos alimentar a sensação de impunidade. O que também sabemos é que só a punição não basta.
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